Abstract
A medicalização da infância e da adolescência se articula com a medicalização da educação com relação às “doenças do não aprender”. Nesse contexto, o diagnóstico da Dislexia é legitimado pelo DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, utilizado pelos profissionais da saúde. O objetivo deste artigo é analisar o modo como as classificações diagnósticas do DSM-5 faz efeito na medicalização do processo de apropriação da leitura. Os dados foram analisados a partir da Análise Dialógica do Discurso. Os resultados revelaram que o discurso médico, materializado no texto do DSM, implica diretamente na medicalização da educação. O DSM-5 apresenta uma versão da Dislexia que desconsidera a história e o contexto sociocultural no qual os estudantes ou adultos em circunstâncias não escolares, manifestam ou têm produzido sintomas na leitura. A ideologia na qual o documento se baseia se insere numa perspectiva biologizante, na qual os problemas específicos à aprendizagem do ler decorrem de desordens neurobiológicas e, portanto, podem ser medidos facilmente, por meio de medidas padronizadas. As consequências desse modo de olhar têm desdobramentos significativos que marcam a trajetória escolar e contribuem com a configuração de uma história que passa a ser marcada pela incapacidade de aprender.
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