Abstract

Na planície aluvial da várzea da Nazaré (província da Estremadura Portuguesa, na região centro litoral do país), numa área que estabelece o contacto entre o antigo estuário lagunar interior e o oceano, foi identificado um sítio arqueológico conhecido por Meu Jardim, datado do Neolítico Médio (finais do V e IV milénios A.N.E.), com diversos momento de ocupação registados em estratigrafia, e localizado nas proximidades das jazidas de sílex que terão provavelmente sido exploradas pelos seus ocupantes. Trata-se de um concheiro com vários níveis de ocupação de contexto doméstico.
 Em face das lacunas de conhecimento que caracterizam os estudos líticos deste período, optou-se por analisar apenas, neste primeiro estudo, as suas produções lâmino-lamelares e integrá-las no contexto regional.
 Estamos perante material de pequenas dimensões, sobretudo em sílex (o quartzo está menos representado), produzido a partir de núcleos prismáticos pré-formatados (o principal método de produção de suportes lâmino-lamelares), que teve lugar nas próprias jazidas de sílex exploradas na área envolvente. As lâminas e lamelas apresentam atributos compatíveis com uma debitagem por pressão, com talões facetados, e terão, no caso do Meu Jardim, sido utilizadas de modo expedito para suprir as necessidades decorrentes de estadias episódicas no local.
 De um modo geral, as inferências produzidas a partir do material do sítio do Meu Jardim e da sua comparação com outros contextos revelam, para o período em causa, um comportamento económico e tecnológico muito diversificado no que respeita à exploração e circulação do sílex. As estratégias subjacentes a estas práticas parecem determinadas pela proximidade (maior ou menor) de jazidas de sílex e pelo fim a que se destinavam os suportes alongados (uso imediato, dilatado no tempo, ou uso como oferenda funerária).

Highlights

  • Até a década de 1990, a análise lítica em Portugal tinha como objetivo a definição de fósseis diretores para, juntamente com outras categorias artefactuais, caracterizar fases ou períodos culturais

  • Por uma questão de método, apresentam-se os dados em função da variabilidade que o conjunto lítico apresenta entre as duas sondagens objeto de estudo, e procura-se determinar o modo de exploração dos núcleos para lâminas e lamelas, as técnicas utilizadas na debitagem destes produtos e os seus padrões morfométricos, a fim de determinar variações tecnológicas e dimensionais

  • A identificação e escavação do concheiro do Meu Jardim teve lugar no âmbito do acompanhamento arqueológico decorrente da construção de um viaduto da variante da Estrada Nacional 242 que atravessa a atual várzea do Rio Alcoa, tendo os trabalhos sido realizados pela empresa ERA Arqueologia S.A. (Valera & Santos 2010)

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Summary

Introdução

Até a década de 1990, a análise lítica em Portugal tinha como objetivo a definição de fósseis diretores para, juntamente com outras categorias artefactuais (cerâmica, metalurgia), caracterizar fases ou períodos culturais. Será apenas em meados daquela década que tem lugar uma viragem nos estudos das indústrias de pedra lascada neolíticas, em parte como resultado colateral da renovação dos estudos do Paleolítico Superior português operada nesse momento (Zilhão 1997), num alinhamento teórico bordesiano. O estudo do concheiro do Meu Jardim configura-se como muito relevante para o conhecimento do talhe da pedra durante o Neolítico médio da Estremadura Portuguesa porquanto a larga maioria dos trabalhos publicados até ao momento têm incidido principalmente em contextos da fase antiga do período. Por uma questão de método, apresentam-se os dados em função da variabilidade que o conjunto lítico apresenta entre as duas sondagens objeto de estudo (ver abaixo), e procura-se determinar o modo de exploração dos núcleos para lâminas e lamelas, as técnicas utilizadas na debitagem destes produtos e os seus padrões morfométricos, a fim de determinar variações tecnológicas e dimensionais. Uma interpretação com propósitos comparativos - isto é, visando a integração deste sítio no contexto geral das produções lâmino-lamelares neolíticas da região estremenha - é avançada nos capítulos conclusivos

Localização e trabalhos arqueológicos realizados
Estratigrafia e ocupações humanas
Sondagem 1
Sondagem 3
Componente material e cronologia das ocupações
Inventário
Análise da produção lâmino-lamelar
Utensilagens
Síntese
Considerações finais
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