Abstract

Este trabalho apresenta o produtor, roteirista, cineasta e ator Josafá Duarte, morador do distrito de Salgado dos Mendes, município de Forquilha, zona norte do estado do Ceará, no Brasil. Em uma segunda etapa, apresenta a prática de gravação de Josafá Duarte, com ênfase nas relações interpessoais do seu grupo de trabalho. Na terceira secção revela as estratégias de exibição para dar visibilidade à sua obra, a destacar os usos das mídias digitais, as apropriações dos vendedores de DVDs piratas, que proliferam a obra de Josafá em bancas de jornais e em camelôs, e a exibição pública nos distritos e localidades distantes com o apoio de uma Kombi antiga cedida pela Prefeitura. Em um quarto momento deste texto, será apresentada uma discussão sobre o tipo de cinema realizado por Josafá Duarte, e alguns conceitos sobre este tipo de cinema para circunscrever o tipo de filme que ele pratica e os aspectos de produção que são envolvidos na realização. A conclusão é a de que é necessário repensar a história do cinema brasileiro a partir da consideração da relevância do trabalho realizado pelos pequenos produtores em suas comunidades. Metodologicamente, a pesquisa partiu de quatro entrevistas, observação das gravações do curta-metragem “Escapei fedendo” (Josafá Duarte 2017) e registo em diário de campo, análise do blog do sujeito do trabalho, bem como de sua conta no YouTube. A redação do artigo utiliza a técnica da narrativa de vida.

Highlights

  • Este trabalho apresenta o produtor, roteirista, cineasta e ator Josafá Duarte, morador do distrito de Salgado dos Mendes, município de Forquilha, zona Norte do Estado do Ceará, na região Nordeste do Brasil

  • As dissertações de mestrado Filmes periféricos e as margens do cinema brasileiro: um estudo de caso a partir do longa-metragem Cartão Postal (Santos 2016) e Entre fazendeiros, donzelas e caiçaras: uma semiose cinematográfica de Cyro Matoso (Abbema 2013) são apenas dois exemplos de como o cinema realizado fora dos eixos de produção profissional vem a encontrar nas universidades campo de debate e estudo

  • O processo de criação no cinema é, também, um processo “(auto)biográfico”, no momento em que a “biografização” acontece na experiência do sujeito, pois, nos momentos em que cria histórias e as grava, o cineasta enuncia suas referências, um círculo de memórias preenchidas por afetos e informações vivenciadas

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Summary

Um cineasta no sertão nordestino brasileiro

Josafá Ferreira Duarte, 58 anos, é morador de Salgados dos Mendes, distrito com cerca de 500 habitantes que pertence à cidade de Forquilha. Agricultor e cineasta, Josafá está entre aqueles que se apropriaram do cinema como forma de resistência para, nos filmes de ficção, continuar transmitindo uma visão muito particular dos elementos de sua cultura local. Entretanto, ainda no ano de 2006, Josafá se deparou com um problema: parte da população de Forquilha, e em especial de Salgado dos Mendes, era analfabeta, portanto não tinha acesso às informações publicadas no jornal. A importância do trabalho de Josafá foi reconhecida pelo cineasta Rosemberg Cariry – diretor do sucesso Corisco & Dadá (1996) –, que emprestou a ele equipamento para a realização de Cadê meu zóculos (Josafá Duarte 2015), filme que ganhou versão em curta e longa-metragem.

Josafá Duarte e a prática de gravação
Josafá Duarte e as formas de exibição
Considerações finais
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