Abstract

O artigo pretende analisar o processo inquisitorial da beata Josefa do Sacramento, irmã da Ordem Terceira do Carmo, sentenciada pelo Tribunal da Inquisição do Santo Ofício de Lisboa em 1732, sob a acusação de molinismo. Pretende-se: contextualizar o processo mencionado no campo religioso do período; analisar as relações que as irmãs terceiras beatas mantinham com seus confessores e diretores espirituais; analisar os delitos de heresia de que eram acusadas; e analisar o conjunto das práticas religiosas das beatas envolvidas, vinculando-as a modelos de santidade e à literatura mística difundida aos fiéis.

Highlights

  • De acordo com o referido modelo, o poder libertador da graça divina ficava suplantado pela contabilidade das obras de salvação, conforme a síntese do autor: Face à indolência da tradição, a um casuísmo frequentemente sem altura, a um áspero ascetismo, tantas vezes insuficientemente endereçado, a uma repetição mecânica das fórmulas tradicionais, há todo um cansaço e insatisfação espiritual, ao encontro da qual vão os novos mestres (...) iam esses mestres ao encontro das necessidades de tantos fiéis que não se reencontravam nos esquemas de boa parte da piedade contra-reformística, e que procuravam propostas religiosas construídas mais na verticalidade do encontro com o divino do que na dimensão de uma ascese repetitiva e mortificante (Tavares, 1995, p.213)

  • A obra de Molinos não continha erros doutrinais, e estava em conformidade com as diretrizes da mística espanhola do século XVI, baseada na metodização da vida espiritual e das práticas de oração; na ênfase da união contemplativa da alma com o criador, a partir da qual o devoto atingia um estado de quietude interior; no acento dado ao recolhimento em relação ao qual os exercícios ascéticos, a oração vocal e as observâncias exteriores seriam uma etapa preparatória; na valorização da graça inescrutável de Deus em comparação ao cumprimento escrupuloso de rituais e das boas obras por parte dos devotos, etc. (Dias, 1960, t. 1, p.290-291; Pacho, 2003, p.757-759; p.903-905; Tavares, 1994, p.157-183)

  • Nos gestos produzidos pela beata Josefa do Sacramento e pelo seu diretor espiritual, que possivelmente tomaram o livro dos Cânticos e os respectivos comentadores como modelos, podem ser percebidos diversos elementos apontados pela análise feminista: o protagonismo da beata – que confessa ter tomado a inciativa do matrimônio espiritual;o afeto que sente no contato físico;a reciprocidade dos gestos e das posições assumidas entre ela e o confessor por ocasião do ritual; o caráter indissolúvel existente entre o corporal e o espiritual nas relações que mantinham

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Summary

Introduction

As representações do matrimônio ou desposório espiritual que mais se aproximam aos usos observados pela beata Josefa do Sacramento e pelo seu confessor derivam da literatura mística produzida nos séculos XVI e XVII.

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