Abstract

Este artigo, cujo título advém de um verso do poeta Paul Celan, aborda como os traumas colectivos abalam os fundamentos relacionais, intersubjectivos e sociais constitutivos da psique, atacando a matriz intrapsíquica representativa da díade empática “eu-tu”. Ora a ausência de possibilidade de diálogo entre o “eu” e o “tu” internos vai inviabilizar a simbolização da experiência traumática vivida e a constituição de narrativas, remetendo as vítimas de traumas colectivos para a “noite das palavras”. O trabalho clínico com estes pacientes exige “um terapeuta empático e apaixonado”, que potencie o cerzir da teia relacional eu-tu destruída e que, simultaneamente, reconheça a verdade histórica vivida. Mas o trabalho psíquico individual não é independente da memória e da elaboração psíquica colectivas, apoia-se nelas, alimenta-se delas (e alimenta-as). O sujeito que foi violentado no seu espaço interno e, também, no espaço comum e partilhado, não pode prescindir do reconhecimento e da inscrição, pela comunidade, do que realmente se passou. E o surgir, no tecido social, da polifonia de múltiplas narrativas, semelhantes e diferentes, mobiliza funções figurativas e representativas, tanto no indivíduo como no colectivo, para o que, informe e lacunar, parecia indizível.  

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