Abstract

A Medicina tem convocado as pessoas a realizarem cada vez mais ações preventivas, desde medidas de pressão arterial até a aplicação de novas vacinas; entretanto, médicas e médicos de família e comunidade têm identificado riscos e limitações das ações preventivas, mostrando que nem todas elas são ética ou cientificamente justificáveis. Esse é o escopo da prevenção quaternária, que visa poupar as pessoas de sobremedicalização e procedimentos desnecessários. Vivendo em uma sociedade que prima pela alta tecnologia, onde o terror virou negócio e o autocuidado, uma obsessão, pode ser muito difícil desaconselhar a realização de algum exame ou desprescrever alguma medicação; porém, é exatamente nesse contexto que a prevenção quaternária é profundamente necessária, e a dificuldade de sua prática exige articular outros saberes e recursos além do nível de evidência ou do grau de recomendação de uma ou outra ação. As crenças em saúde são objeto de um cuidado centrado na pessoa, e muitas delas são inspiradas ou traduzidas por ditados populares. Nesse ensaio, discuto o excesso de intervenções e a prevenção quaternária a partir de alguns deles. Analisando frases como “é melhor prevenir do que remediar”, apresento os aforismos como ferramentas de compreensão da prevenção quaternária, podendo ser usados por profissionais e docentes para discutir essa prática contra-hegemônica com pacientes e estudantes. Ao articular os saberes popular e profissional, o texto contribui à competência cultural da Atenção Primária à Saúde e ajuda a produzir encontros clínicos mais harmoniosos e a promover um cuidado menos invasivo, medicalizador e danoso.

Highlights

  • La Medicina ha convocado a las personas a realizar cada vez más acciones preventivas, desde medidas de presión arterial hasta la aplicación de nuevas vacunas; sin embargo, médicas y médicos de familia y comunidad han identificado riesgos y limitaciones de las acciones preventivas, mostrando que no todas ellas son ética o científicamente justificables

  • Dois de seus principais recursos são a Medicina Baseada em Evidências, que busca combinar as melhores informações científicas disponíveis com a experiência do clínico e os valores da pessoa atendida,[5,6] e o Método Clínico Centrado na Pessoa, que valoriza a escuta e a elaboração de planos compartilhados de cuidado

  • As ideias sobre saúde também são objeto de uma prática médica centrada na pessoa,[7,8] que pode evitar cascatas diagnósticas e terapêuticas desnecessárias,[9,10] e muitas dessas ideias são inspiradas ou traduzidas por ditados populares

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Summary

ARTIGOS DE PESQUISA

Nem tudo que reluz é ouro: discutindo prevenção quaternária a partir de ditados populares. A Medicina tem convocado as pessoas a realizarem cada vez mais ações preventivas, desde medidas de pressão arterial até a aplicação de novas vacinas; entretanto, médicas e médicos de família e comunidade têm identificado riscos e limitações das ações preventivas, mostrando que nem todas elas são ética ou cientificamente justificáveis. Analisando frases como “é melhor prevenir do que remediar”, apresento os aforismos como ferramentas de compreensão da prevenção quaternária, podendo ser usados por profissionais e docentes para discutir essa prática contra-hegemônica com pacientes e estudantes. Palavras-chave: Aforismos e Provérbios como Assunto; Medicina de Família e Comunidade; Prevenção Quaternária; Competência Cultural; Medicalização.

Modesto AAD
Medicalização e prevenção quaternária
Considerações finais
Conflito de interesses

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