Abstract

Este artigo propõe extrair do mito de Narciso seus componentes estruturais e seguir com possíveis críticas ao degredo do laço social contemporâneo. A presença das ordens paterna e pulsional no mito e no destino trágico do herói grego é crucial para a sustentação dos argumentos aqui apresentados. Narciso era filho de Cefiso (um rio). As águas (como espelho-Outro) estavam postas desde o início da narrativa. As dimensões do olhar e da voz (como objetos pulsionais) apresentam-se de modo reificado: o olhar que aprisiona e a voz que surge petrificada e em profunda alienação (ecolalia). A orientação ética de uma análise, que visa ao esvaziamento do sentido e à sustentação do furo próprio ao Real, seria um contraponto ao inflar narcísico e à voracidade dos espetáculos de sentido. O presente trabalho se encerra com uma proposta de distinção entre o que seria um fim de análise por o que se pode designar como identificação narcísica (quando os elos do sintoma e do Imaginário atam-se por homotopia) e quando ocorre, por um ponto vazio, enigmático, a identificação ao sinthoma (o que coloca em continuidade Real e sinthoma).

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