Abstract
Com base na análise da cultura material proveniente de unidades domésticas do núcleo urbano de Santarém (PA), ocupadas nos séculos XVIII e XIX, o presente artigo discute os processos de trocas culturais entre portugueses, luso-brasileiros, indígenas e mestiços. Embora esses grupos sociais tenham manipulado a cultura material visando expressar diferentes valores, relacionados à hierarquia, segmentação social e afirmação de identidades, a ambigüidade é uma característica das amostras analisadas, informando sobre as misturas de práticas e de referenciais culturais que levaram à construção de uma sociedade mestiça.
Highlights
This article discusses the processes of cultural exchange between Portuguese, Portuguese-Brazilian, Amerindians, and mestizos based on the analysis of the material culture from households of Santarém (PA), occupied during the eighteenth and nineteenth centuries
Pesquisas arqueológicas visando o estudo do componente pré-colonial na cidade de Santarém, PA, a partir de intervenções realizadas em quintais de residências, estabelecimentos comerciais, jardins e terrenos baldios, acabaram evidenciando também a cultura material referente ao processo de colonização e de consolidação do assentamento urbano, entre os séculos XVIII e XIX
Gomes realizou as primeiras escavações sistemáticas, autorizadas pelo IPHAN, no sítio Aldeia, em Santarém, PA36
Summary
Gomes realizou as primeiras escavações sistemáticas, autorizadas pelo IPHAN, no sítio Aldeia, em Santarém, PA36. Ao invés de uma massa heterogênea de artefatos pertencentes a distintos períodos, embebidos na matriz de solo de terra preta antropogênica, o que encontramos em algumas áreas foi um sítio pré-colonial cortado por diversos bolsões de lixo histórico, visíveis nos perfis das unidades de escavação, indicando de um lado preocupações de organização com o lixo doméstico, ao menos nas residências do século XIX. A descrição de Bates das salas de visitas dos sobrados santarenos como compostas por uma mobília tipologicamente similar e com o mesmo padrão de organização espacial daquela encontrada nas residências dos maiores centros urbanos do Império, sugere que seus proprietários buscavam, a partir de meados do século XIX, se atualizar frente às práticas de sociabilidade já comuns entre os segmentos sociais altos e médios daqueles centros urbanos, então influenciados por um ideal de domesticidade europeu-ocidental que começou a ser adotado no Rio de Janeiro nos anos de 182046. A presença de um pires de porcelana com friso dourado e de uma peça ornamental de porcelana (uma cabeça de cisne) na unidade 2, e de quatro pires de porcelana na unidade 8, também são indicativos desse maior investimento, dado que os itens de porcelana, ausentes na unidade 4, são os de mais elevado valor econômico dentre as diversas categorias cerâmicas
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