Abstract

Do mesmo modo que os negros recriaram suas tradições africanas na sociedade escravista brasileira do século XVIII, certamente enxergaram as práticas rituais do catolicismo como algo que tinha seu fundamento, que lhes fazia algum sentido e que tinha sua justificação. Com efeito, é preciso considerar que a apropriação de alguns dos dogmas do catolicismo por parte de negros africanos e seus descendentes deve ser considerada como resultado da efetiva crença neles. Exemplo disto foi a existência de expressivas lideranças negras da irmandade de Santo Elesbão e de Santa Efigênia, no Rio de Janeiro Setecentista, que se apropriaram de tal modo dos preceitos católicos a ponto de regulamentarem uma devoção às almas do purgatório, em 1786, não só com o objetivo de salvar a alma dos irmãos falecidos, segundo a doutrina católica, mas também como parte de um certo projeto de disseminação da morte cristã, movido pelos próprios negros africanos. Partindo da análise deste caso, bem como do estudo de uma amostragem de registros paroquiais de óbito e testamentos de africanos e seus descendentes, relativos ao século XVIII, proponho através desta comunicação discutir teoricamente a natureza das apropriações do projeto de catequese voltado para os negros, especialmente no que diz respeito às representações acerca da morte, do morrer e do além-túmulo. Para tal, buscar-se-á analisar argumentos, tais como os de John Thornton, James Sweet, Vincent Brown, João José Reis e Anderson Oliveira sobre as relações entre catolicismo e africanidade no que diz respeito às vivências da religiosidade entre africanos e seus descendentes na cidade do Rio de Janeiro Setecentista.

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