Abstract

RESUMO Este artigo tem como objetivo construir inteligibilidades contingentes acerca de eventos interacionais marcados pela violência linguística praticada contra pessoas trans, a partir da análise de atos de fala em circulação em comentários online. Nesse sentido, discuto os resultados de uma pesquisa qualitativa, inspirada na etnografia virtual, feita entre julho de 2015 e julho de 2016, na seção de comentários do site de notícias brasileiro G1, em três matérias jornalísticas relacionadas à encenação de uma crucificação realizada pela atriz e modelo transexual Viviany Beleboni, durante a 19ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Do ponto de vista teórico, são mobilizados saberes relativos à noção de linguagem como performance, às discussões sobre a violência linguística e ao processo de patologização das vidas trans. No trabalho analítico empreendido, foram focalizados os processos de entextualização acionados pelos participantes em seus comentários online. Assim, em razão do olhar adotado sobre os dados gerados, o que se observa é a produção de uma (meta)pragmática engajada no reestabelecimento de contextos violentos, relativos a discursos médico-científicos patologizantes, com vistas a dotar de força ilocucionária os atos de fala transfóbicos, capazes de subalternizar e ferir pessoas trans por meio da linguagem. Desse modo, a pesquisa realizada permitiu salientar o potencial de um modelo indisciplinar e descentrado de investigação em linguagem, comprometido com a compreensão de práticas semióticas situadas na elaboração da realidade social, particularmente em tempos de alta reflexividade e trânsitos textuais intensos.

Highlights

  • RESUMO Este artigo tem como objetivo construir inteligibilidades contingentes acerca de eventos interacionais marcados pela violência linguística praticada contra pessoas trans, a partir da análise de atos de fala em circulação em comentários online

  • In the analytical work undertaken, we focused on the interpretation of linguistic contextualization clues, indexicality dynamics and the processes of entextualization triggered by the participants in their online commentaries

  • Due to the adopted view of the data generated, what is observed is the production of a pragmatic pragmatics engaged in the reestablishment of violent contexts, related to pathological medical-scientific discourses, with a view to providing illocutionary force with the acts of speaks transphobic, capable of subalternizing and hurting trans people through language

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Summary

UMA VISADA QUEER SOBRE AS NORMAS DE GÊNERO E SUAS TÁTICAS

A conexão teórica que abre a possibilidade de investigação do funcionamento (meta)pragmático dos atos de fala violentos, “motivados” pela performance de gênero de suas vítimas, está centrada na visada performativa da linguagem, como proposta por Austin ([1962] 1990) e Rajagopalan (2010), revisada por perspectivas como as de Derrida (1991a, 1991b) e Butler (1997). Como argumentam Bento e Pelúcio (2012), tal perspectiva patologizante dos corpos, identidades e desejos das pessoas trans, os quais passam a ser tutelados por instituições médicas e de estado graças aos efeitos de verdade gerados pelos saberes-poderes médico-científicos, deslegitimam a leitura de que a dicotomia natureza (corpo) versus cultura (gênero) não possui apoio fora da égide do pensamento cartesiano, uma vez que não existem condições simbólicas para se atribuir sentido ao corpo (ou qualquer uma de suas estruturas anatomofisiológicas) fora da cultura, ou seja, fora de marcos discursivos, sociais e políticos situados. Artigos produzir algumas incursões teóricas em torno desse paradigma epistemológico e político nos estudos da linguagem

SOBRE COISAS QUE FAZEMOS COM A LINGUAGEM
MODOS DE FAZER ESTA PESQUISA
11. Cambridge
Rio de Janeiro
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