Abstract

<p>Este estudo visa abordar o problema da teologia no pensamento de Emmanuel Levinas. De início, procuramos tecer um breve mapeamento dos diferentes usos do termo teologia por Levinas. Com isso, buscamos evidenciar que Levinas propõe um novo sentido para o vocábulo em questão, diverso em relação àquele em que se define como discurso racional sobre Deus. Concomitantemente, tentamos mostrar que a crítica levinasiana se dirige sobretudo à teologia racional, por causa de seu conúbio histórico com a filosofia, cuja essência é então definida em termos de uma aspiração à unidade absoluta. Dobrando-se às exigências racionais de universalidade conceitual e inclinando-se à insatisfação relativa ao conhecimento, a teologia padeceria da tentação de abster-se do sofrimento de outrem, relegando a práxis responsável a segundo plano em relação à primazia outorgada ao conhecimento e ao amor a Deus. Identificadas as razões pelas quais Levinas julga dever criticar a teologia racional, nos propomos a enfrentar o desafio de uma possível caracterização do próprio discurso levinasiano sobre Deus, definindo-o não em termos de teologia negativa, mas como um discurso pretensamente “filosófico”, desde que aí se subentenda a primazia da ética em relação à ontologia, mas sem que a tensão entre os dois níveis de significação, o ético e o ontológico, seja suprimida. Com isso, procuramos evidenciar qual é o exato lugar que a teologia ocupa no seio do discurso levinasiano, dada a distinção que o autor estabelece entre testemunho e teologia. À teologia enquanto discurso racional sobre Deus é anteposta uma espécie <em>sui generis</em> de teofania, uma revelação de Deus mediante o encontro ético com o outro humano.</p>

Highlights

  • This study seeks to approach the problem of the theology in Emmanuel Levinas's thought

  • A relação crítica que o pensador Emmanuel Levinas estabeleceu com a teologia enquanto discurso racional sobre Deus nem sempre foi objeto de delimitações precisas

  • Convém, pois, analisar a problemática da relação que Levinas estabelece com a teologia enquanto conhecimento de Deus

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Summary

Os usos do termo teologia

É sempre banhado em precaução, e às vezes em desconfiança, que o vocábulo teologia emerge sob a pena de Levinas[1]. O logos de Deus não se definiria como expressão da razão nem de racionalidade, pelo menos no sentido em que a filosofia teria entendido esses termos, mas, antes, de passividade sem assunção por parte do pensar, e mandamento, traumatismo ou inspiração por parte do pensado, isto é, Deus, que abriria ou despertaria assim a própria racionalidade. É, pois, contra o laço entre a teologia e a filosofia como ontologia que Levinas se insurge, ou ainda, é à teologia enquanto uma forma de ontologia, isto é, como conhecimento ou saber sobre o ser de Deus, que os olhos levinasianos se encolerizam. De modo preciso, essa ligação indissociável entre teologia e filosofia enquanto ontologia, convém analisarmos o modo como Levinas compreende o acontecimento histórico de encontro e entrelaçamento entre a sabedoria bíblica, que aos olhos levinasianos não se reduz ao conhecimento ou saber teórico, e a razão filosófica. Voltemo-nos por um instante às análises desenvolvidas em Do uno ao outro

O laço entre Filosofia e Teologia: sob o signo da aspiração à unidade
Deus como outro do ser: uma outra face da teologia negativa?
Teologia e testemunho
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