Abstract
Inscrito no quadro teórico-metodológico da análise de discurso de base materialista, que se desenvolve a partir das proposições de Michel Pêcheux, o presente trabalho tem como objetivo analisar discursivamente sentidos em curso para o regime militar no Brasil, em diferentes materializações no espaço urbano. Com foco nas tensões e contradições que inscrevem tais discursos na cidade, em nossa conjuntura sócio-histórica, traz para análise um corpus constituído pelo vídeo institucional disponível no site do Memorial da Resistência, em São Paulo, e flagrantes urbanos de cartazes que fazem apologia à ditadura e aos métodos de tortura e morte por ela empregados no Brasil. As análises realizadas possibilitam vislumbrar a contradição entre os discursos de resistência, que ganham o espaço do Memorial, e o discurso cínico e(m) gestos de violência, flagrado no espaço urbano. Tais flagrantes apontam para a necessidade de questionamento das evidências de sentidos, de modo a fazer da lembrança um gesto de resistência.
Highlights
O presente trabalho, filiado à Análise materialista de Discurso, sustentada nos dispositivos teóricometodológicos elaborados por Michel Pêcheux (2009 [1975]), na França, e Eni Orlandi (2001; 2004), no Brasil, tem em vista produzir uma análise que situe algumas das tensões e dos sentidos produzidos sobre o regime militar no Brasil nas primeiras décadas do ano 2000
O projeto tem como objetivo geral situar os modos de formulação e circulação do discurso político brasileiro a partir do acontecimento do impeachment e um de seus objetivos específicos consiste em analisar os efeitos do discurso político no espaço urbano
ORLANDI, Eni. História das ideias linguísticas no Brasil: construção do saber metalinguístico e constituição da língua nacional
Summary
Para iniciarmos nosso percurso reflexivo em torno dos espaços do museu e do memorial, mobilizaremos os sentidos dicionarizados. Em nosso gesto de análise, podemos situar que propostas como a do Memorial produzem um efeito de contorno do processo de silenciamento censório (ORLANDI, 2002) de/sobre um regime autoritário pelo retorno de sentidos em jogo sobre esse período, no qual a formação social brasileira esteve sob o funcionamento de uma política militar de violência e de tortura. Com base no trabalho de Ricoeur (1995), compreendemos que a constituição do espaço do Memorial da Resistência, planejada e executada no mesmo espaço onde outrora aconteceram torturas e assassinatos, convoca a formação social brasileira a um trabalho de elaboração do funcionamento de determinados períodos governamentais, equivocando uma evidência construída sobre tais regimes, como, por exemplo, aquela na qual se pauta a afirmação de que “no governo milita r era bom”. Nosso trabalho prossegue analisando alguns desses dizeres, a partir do que estamos designando como flagrantes urbanos
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