Abstract

O autor estuda o impacto de Kant na filosofia analítica contemporânea e na respetiva historiografia, desde Frege, Russell e o positivismo lógico vienense, até a algumas reformulações mais recentes do problema kantiano sobre a distinção entre o analítico e o sintético, e a possibilidade do sintético a priori, como é o caso, entre outras, da de Quine e da de Kripke. Discute as razões que estão na origem do retorno a Kant na filosofia analítica desde os anos cinquenta do século passado até aos nossos dias (particularmente do que chama “rejeição versus aceitação de Kant”), e mostra que esse retorno se centrou (e em parte continua a centrar-‑se) na atualidade do problema referido e das respetivas implicações.

Highlights

  • Introdução: o retorno a KantNo último quartel do século XX, a historiografia sobre a filosofia analítica evocou frequentemente e com alguma insistência a influência de Kant neste ou naquele filósofo contemporâneo ou nesta ou naquela problemática analítica privilegiada, à revelia, muitas vezes, dos autores comentados, quando não das próprias interpretações analíticas tradicionais e mais ou menos “oficiais” a respeito dessa influência.[2].

  • Entretanto, no princípio dos anos cinquenta Quine tinha já sugerido, embora sem grande impacto na altura (precisamente porque se tratava de uma simples sugestão), que a teoria da significação do positivismo lógico de maneira geral (quer na sua fase vienense quer na americana) não fazia mais, sem o saber, do que retomar sob outra forma, sem o solucionar, 27 Veja­‐se Richard Rorty (ed.), The Linguistic Turn: Recent Essays in Philosophical Method (Chicago/London: The University of Chicago Press, 1975), 38­‐39.

  • A aperceção, por parte da filosofia analítica e da respetiva historiografia, de que a problemática do holismo e suas consequências não foi inaugurada originalmente por Quine (no artigo de 1968, “Relatividade ontológica”), mas remonta, finalmente, a Kant e à Crítica da razão pura (à sua distinção entre “fenómeno” e “númeno”) passando por Duhem e outros no início do século XX, como diversos autores mostraram, é absolutamente central.

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Summary

Introdução: o retorno a Kant

No último quartel do século XX, a historiografia sobre a filosofia analítica evocou frequentemente e com alguma insistência a influência de Kant neste ou naquele filósofo contemporâneo ou nesta ou naquela problemática analítica privilegiada, à revelia, muitas vezes, dos autores comentados, quando não das próprias interpretações analíticas tradicionais e mais ou menos “oficiais” a respeito dessa influência.[2]. Entretanto, no princípio dos anos cinquenta Quine tinha já sugerido, embora sem grande impacto na altura (precisamente porque se tratava de uma simples sugestão), que a teoria da significação do positivismo lógico de maneira geral (quer na sua fase vienense quer na americana) não fazia mais, sem o saber, do que retomar sob outra forma, sem o solucionar, 27 Veja­‐se Richard Rorty (ed.), The Linguistic Turn: Recent Essays in Philosophical Method (Chicago/London: The University of Chicago Press, 1975), 38­‐39. A aperceção, por parte da filosofia analítica e da respetiva historiografia, de que a problemática do holismo e suas consequências não foi inaugurada originalmente por Quine (no artigo de 1968, “Relatividade ontológica”), mas remonta, finalmente, a Kant e à Crítica da razão pura (à sua distinção entre “fenómeno” e “númeno”) passando por Duhem e outros no início do século XX, como diversos autores mostraram, é absolutamente central. Em suma: uma rejeição de Kant não inteiramente consciente de si e dos seus pressupostos fundamentais, filosoficamente falando, constituiu a razão básica da decadência do movimento analítico no passado (em especial, do positivismo lógico vienense) e, finalmente, de um retorno involuntário às posições de Kant; por isso, trata­‐se agora para a historiografia analítica contemporânea de fazer a história desta rejeição inconsequente de Kant e, em particular, de explicitar e reequacionar completamente esses pressupostos

Reformulações kantianas do problema de Kant
Kant e o fim da filosofia analítica
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