Abstract

Na poesia de José Leite de Vasconcellos (1858‑1941), fundador do Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, deflagra a avidez sem limites do seu anseio de conhecimento. Esta característica que norteia a sua vida, a sua obra, e se mantém em toda a sua poética, configura a proposta de leitura deste artigo. José Leite de Vasconcellos, à luz do mito de Prometeu, é portador da chama libertária, paradigma de humanismo, na Antiguidade, mas aponta também estigmas da hybris antiga que se projectará tragicamente no século XX, no qual assistimos à desumanização e à perda de valores que desvirtuam o progresso, proporcionado pela investigação e pelos avanços da ciência, questionando a própria projecção emblemática do mito.

Highlights

  • In the poetry of José Leite de Vasconcellos (1858­‐1941), the founder of the National Archaeological Museum of Lisbon, the boundless greed of his longing for knowledge is palpable

  • 59 stigmas of the ancient hybris that will launch itself tragically in the twentieth century. This period witnesses the dehumanization and loss of values perverting the progress provided by research and the advances of science, even questioning the symbolic pro‐ jection of the myth

  • Vasconcellos, J.L. (1879), Poema da Alma, Typ. do Commercio e Industria, Porto

Read more

Summary

Vasconcellos 1879

Há, no entanto, um tom de desafio, resvalando para uma certa sobranceria, que lembra a hybris grega. O século XX trouxe grandes progressos à humanidade, mas também os já pressentidos horrores aos quais nem já Prometeu sobrevive. Num poema do poeta alemão Bertoldt Brecht (1898­‐1965), dois dias após o lançamento da bomba atómica em Hiroshima e Nagasaki, a figura de Prometeu surge completamente desvirtuada da sua capacidade para trazer benefício e progresso aos homens, pois ele próprio entregou o fogo aos deuses, que funcionam como um coro, pois o verdadeiro poder está nas mãos dos que o exercem criminosamente, infligindo sofrimento à humanidade:. 2.10.45 erwäge einen Prometheus, die götter sind unwissend und bösar‐ tig, schlau im erpressen von opfern, lebend von den fetten des lands. August 1945 explodieren die Atombomben über Hiroshima und Nagasaki.»8) «Jornal do Trabalho 2.10.45 pensa na a figura de Prometeu, os deuses são ignorantes e

Tradução de Assmann 2005
Brecht 1995
Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call