Abstract

Nesse artigo, pretendemos mostrar como um certo ideal de índio permeia as utopias indigenistas do Estado brasileiro e como a política de isolamento, influenciada por esses ideais, apresenta suas idiossincrasias e contradições. Apresentamos um estudo sobre os conflitos recentes na Terra Indígena Vale do Javari (AM) que levaram à morte violenta de índios Korubo e Matis, considerados pelo governo respectivamente como “isolados” e de “recente contato”. Analisamos a história do conflito a partir das narrativas indigenistas e dos indígenas. Observamos as formas como os servidores da FUNAI procuram ignorar e negar o direito à autodeterminação indígena e como procuram obliterar o papel e a presença do Estado nas relações interétnicas na região. Concluimos que um possível diálogo parece ser o primeiro passo para pôr fim a uma política de “índios ignorados”. O ideal de isolamento não pode se sobrepor à auto-determinação: o conceito é fragilmente sustentado em uma ideia romântica e contraditória de índios que vivem totalmente à margem de processos históricos, como se não sofressem e reagissem às pressões do velho (neo)desenvolvimento promovido pelo Estado e pela presença de frentes expansionistas como madeireiros, construtoras de barragens ou petroleiras.

Highlights

  • We set out to show in this paper how a particular ideal about indigenous people permeates the Brazilian indigenist utopia and how the indigenous policies concerning isolated indians present their contradictions and idiosyncrases, influenced by these ideals

  • Esses encontros entre parcelas dos povos Matis e Korubo foram considerados como sendo resultado de uma coerção por parte dos Matis pelo então coordenador da CGIIRC/FUNAI, Carlos Travassos

  • In: Brasil Indígena (Brasília: Funai), ano III, n

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Summary

Ilhas Andaman e a ideal indianidade

Numa certa ilha das que formam o arquipélago de Andaman, no Golfo de Bengala, no Oceano Índico, há um povo que vive em área de alta floresta rodeada por águas de um oceano azul turquesa e é considerado pela ONG Survival International como sendo o mais isolado do mundo. As diversas narrativas sobre esses moradores das Ilhas Andaman reforçam o ideal de um paraíso edênico, o “mito prístino” (DENEVAN, 1992), como se fosse possível alguém viver nesse mundo sem estar afetado pela industrialização, poluição ou pelos mecanismos de extração massiva de recusos naturais, ou isolar-se dos efeitos do antropoceno[1]. Como “isolarse” nesse mundo em crise ecológica profundamente trasformado pelo capitalismo ou pelo “capitaloceno”, para usar a expressão proposta por Jason Moore (MOORE, 2014), também adequada para indicar os efeitos da pressão do capitalismo e do colonialismo sobre o planeta e as diversas populações indígenas, especialmente aquelas que vivem nas áreas de fronteiras de commodities. O povo Sentinelese, que vive em uma ilha sob o risco de desaparecer, são os índios modelo no imaginário internacional da política de isolamento.

Vale do Javari
Contato Matis
Mudança na política de atração e contato
Relações Matis e Korubo
Política de proteção ou de subalternização?
Guerra tribal ou desrespeito institucional?
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