Abstract
Este estudo propõe refletir sobre como a formação em Nutrição é passível de reproduzir gordofobia, e os riscos impostos às pessoas gordas por essa opressão. A gordofobia, enquanto discriminação dos indivíduos gordos, consequente da estigmatização, traduz-se em desigualdades nos mais diversos ambientes, repercutindo nos níveis biológico, psicológico, social e econômico. A hierarquização das populações consideradas mais ou menos saudáveis, baseada na lógica médico-estatística polarizada entre normal e patológico, sustenta a predominância da fisiologia no estudo das ciências da saúde, consolidando práticas de intervenção e controle sobre os desviantes, como medidas de prevenção. A formação teórica, enquanto definidora da prática, apresenta dilemas criando uma tendência de atuação patologizante, direcionando os Cursos de Nutrição a priorizarem interesses econômicos em detrimento das demandas sociais. Essa patologização contribui para a manutenção do modelo de saúde que corrobora a busca incessante pelo tipo corpóreo ideal, favorecendo a mercantilização das práticas em saúde. O debate conceitual e teórico mostra-se essencial para a discussão da abordagem prática, uma vez que a crença na obesidade enquanto reflexo das qualidades morais dos indivíduos tem importantes consequências sociais. De forma agravante, ao reproduzir a estigmatização das pessoas gordas, os profissionais as afastam do acesso aos serviços de saúde. Para desenvolver práticas humanizadas, promotoras de saúde e que reconheçam o indivíduo em sua historicidade e sociabilização, é preciso desenvolver outras concepções de saúde, já que a abordagem clínico-biomédica se mostra insuficiente para atuar de maneira satisfatória diante desta complexidade.DOI: 10.12957/demetra.2018.33311
Highlights
Nas perspectivas hegemônicas de saúde, a obesidade e seus desdobramentos vêm sendo estudados há algumas décadas
No campo da Nutrição, ela é apontada não só como uma patologia – definida como um acúmulo excessivo ou anormal de gordura no tecido adiposo – mas como importante fator de risco para outras doenças.[1]
Desde antes de a obesidade entrar para o rol das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), deixando para trás a preocupação com as carências nutricionais e a fome, a ciência da Nutrição reproduz o pensamento biomédico.[2]
Summary
Nas perspectivas hegemônicas de saúde, a obesidade e seus desdobramentos vêm sendo estudados há algumas décadas. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), mais de 50% da população brasileira encontrava-se com sobrepeso, e cerca de 16% da população adulta encontrava-se em algum grau de obesidade no ano de 2009.6 Com o intuito de solucionar a problemática, assim como as outras profissões da Saúde, a ciência da Nutrição passou a dedicar-se ao estudo da obesidade, reproduzindo tradicionalmente o pensamento biomédico, partindo do pressuposto desta enquanto doença que deve ser tratada do ponto de vista biológico-nutricional e como fator de risco para outras enfermidades.[7] Nas últimas duas décadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar a existência de uma “epidemia da obesidade”, o que influencia o aumento de políticas públicas voltadas ao emagrecimento.[2]. A partir destes pressupostos teóricos, realizou-se revisão bibliográfica nas bases de dados mais comumente utilizadas nas áreas da saúde, buscando reconhecer os debates atuais sobre concepções de saúde, gordofobia e profissionalização em Nutrição
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