Abstract
Este texto apresenta uma reflexão acerca das estratégias de moradores de uma favela carioca para lidar com práticas policiais de violência e arbitrariedade em um contexto de pacificação de favelas. A implementação das Unidades de Polícia Pacificadora é importante na medida em que elas representaram e figuraram como um deslocamento da antiga forma de ação da polícia calcada na ideia da guerra para uma nova polícia apoiada na noção de paz, ao menos discursivamente. Considerando esse cenário e a partir de relatos dos moradores sobre episódios de violência policial, discuto como a indignação frente a essas práticas policiais convivem com uma certa naturalização, tanto da exposição permanente a essa violência quanto das estratégias para lidar com ela e se proteger física e emocionalmente.
Highlights
Descrevo como, diante das ações de violência decorrentes de uma política cujo principal discurso é “levar a paz às favelas”, os moradores constroem estratégias que combinam resiliência e indignação, estratégias que tornam possível viver, conviver e suportar a exposição constante ao risco e a imprevisibilidade de uma violência que pode ser letal
Considerando esse cenário e a partir de relatos dos moradores sobre episódios de violência policial, discuto como a indignação frente a essas práticas policiais convive com certa rotinização, tanto da exposição permanente a essa violência quanto das estratégias para lidar com ela e se proteger física e emocionalmente
Summary
No fim do ano de 2008, o Governo do Estado do Rio de Janeiro iniciou a política de segurança pública das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), na tentativa de ocupar permanentemente territórios de favelas dominados e controlados por grupos de traficantes. A chamada política de pacificação foi apresentada e justificada como um deslocamento na maneira de conceber e implementar políticas de segurança pública para favelas. Indignação e rotinização fundo o contexto de pacificação e os deslocamentos discursivos por ele produzidos, este texto propõe uma reflexão acerca das experiências de moradores da favela Cidade de Deus (CDD) frente às práticas de violência e arbitrariedade policial de agentes de segurança pública. Esse sentimento também se intensificou porque, ao longo do período em que residi na CDD, de março a julho de 2014, os confrontos com troca de tiros entre policiais e traficantes, que eram mais raros no início da pesquisa, aumentavam progressivamente e, por isso, aumentaram as ocasiões em que eu esperava um ou dois dias para retornar ao local. Descrevo como, diante das ações de violência decorrentes de uma política cujo principal discurso é “levar a paz às favelas”, os moradores constroem estratégias que combinam resiliência e indignação, estratégias que tornam possível viver, conviver e suportar a exposição constante ao risco e a imprevisibilidade de uma violência que pode ser letal
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