Abstract
RESUMO: O trabalho tematiza a questão das relações entre ideologias de gênero e ideologias de língua(gem), de modo a problematizar a hipótese de convergências entre hegemonias linguísticas e a ordem hegemônica de gênero, fixada pela tradição etnocêntrica ocidental. A partir de exemplos de duas comunidades ativistas feministas da rede social Facebook, investigadas desde 2013 em um estudo etnográfico virtual, o trabalho focaliza a função metapragmática exercida por comentários de participantes dessas comunidades. Orienta-se pela compreensão da linguagem como ação social (BAUMAN; BRIGGS, 1990), pelos conceitos de “ideologia de linguagem” (WOOLARD, 1998), de “conflito discursivo” (BRIGGS, 1996) e de “ataque metapragmático” (JACQUEMET, 1994) e pela apreensão dos processos de construção de identidades em suas relações com as disputas de poder e controle na interação e no mundo social (SIGNORINI, 1998; MOITA LOPES, 2010). Nesses espaços-tempos, as hegemonias de gênero/sexualidade e as hegemonias linguísticas aparecem interligadas, atendendo aos propósitos de (des)credibilização de argumentos, (não) preservação da face e (re)orientação das interações. Isso ocorre sobretudo nas tentativas de normatização do uso da língua(gem), que invocam um modelo cultural escolarizado e estabelecem relação entre esse modelo e a capacidade dos sujeitos de compreensão das questões em discussão, sobre gênero e sexualidade.
Highlights
▪▪ RESUMO: O trabalho tematiza a questão das relações entre ideologias de gênero e ideologias de língua(gem), de modo a problematizar a hipótese de convergências entre hegemonias linguísticas e a ordem hegemônica de gênero, fixada pela tradição etnocêntrica ocidental
O acompanhamento diário dos posts e das interações nos levou também à observação de que alguns comentários de participantes nos debates revelavam função metapragmática, ou seja, “função tanto de descrever e avaliar quanto de condicionar e orientar os usos da língua na interação oral ou escrita” (SIGNORINI, 2008, p.117)
Nas páginas ativistas do Facebook investigadas, as disputas discursivas exibem claramente esse processo, em um contexto de confronto por meio do qual os participantesnegociam, a todo tempo, o seu universo social,definindo econstruindo suas identidades sexuadas e generificadas no contato com a alteridade (BIONDO; SIGNORINI, 2015)
Summary
▪▪ RESUMO: O trabalho tematiza a questão das relações entre ideologias de gênero e ideologias de língua(gem), de modo a problematizar a hipótese de convergências entre hegemonias linguísticas e a ordem hegemônica de gênero, fixada pela tradição etnocêntrica ocidental. A observação dessa dinâmica permitiu-nos configurar uma nova questão que julgamos de interesse ao campo aplicado dos estudos da linguagem e a qual focalizamos neste trabalho: a função metapragmática exercida por alguns comentários de participantes e a hipótese de relacionamento entre hegemonia linguística e outras ordens hegemônicas estabelecidas, como as de gênero e sexualidade fixadas pela tradição etnocêntrica ocidental. Diante dos múltiplos dispositivos linguísticos e socioculturais mobilizados pelos participantes em suas performances de uso da língua, que exibem também variadas conotações ideológicas, trazemos para discussão, neste trabalho, os “conflitos” (BRIGGS, 1996) e os “ataques metapragmáticos” (JACQUEMET, 1994) relacionados a dois valores culturais interligados e extremamente presentes nas páginas estudadas: 1) os conceitos de masculinidade/feminilidade e 2) os ideais de língua padrão e de correção linguística. Os embates não apenas instanciam um modelo cultural normativo e escolarizado de uso da língua, como também revelam o estabelecimento de relações entre esse modelo, as ideologias ligadas ao gênero/à sexualidade e a capacidade dos sujeitos de compreender e participar das questões em discussão
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