Abstract

O artigo discute os descompassos entre as identidades (sexuais e de gênero), os desejos e as práticas sexuais, bem como as relações entre identidades sexuais e percepções de risco às DSTs/Aids de um grupo de mulheres jovens, autoclassificadas como lésbicas ou bissexuais, frequentadoras de espaços de entretenimento noturno no Rio de Janeiro (RJ). Frente à relação entre a construção das identidades e os processos de vulnerabilidade, a análise se debruça no papel das identidades sexuais nos contextos de interação social e trajetórias erótico-afetivas do grupo, apontando circunstâncias relativas à sociabilidade, ao gênero e ao perfil social que balizam a suscetibilidade às DSTs. Os achados revelam que a autodefinição das categorias identitárias das jovens varia em função dos relacionamentos afetivo-sexuais com parcerias de ambos os sexos e das redes de sociabilidade, em distintos momentos de suas vidas, indicando um sentido de fluidez na expressão da sexualidade. A lógica de proteção às DSTs/Aids do grupo é influenciada pela intimidade estabelecida nos relacionamentos afetivos e pela percepção de 'segurança' nas práticas homoeróticas femininas. Frente à importância das práticas homo e heterossexual para a transmissão das DSTs e a tendência das campanhas preventivas em privilegiar grupos com identidades fixas, sugere-se que políticas voltadas para a saúde sexual e a saúde da mulher priorizem a história sexual das mulheres e as relações entre suas práticas e identidades em contextos específicos.

Highlights

  • Resumo: O artigo discute os descompassos entre as identidades, os desejos e as práticas sexuais, bem como as relações entre identidades sexuais e percepções de risco às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)/Aids de um grupo de mulheres jovens, autoclassificadas como lésbicas ou bissexuais, frequentadoras de espaços de entretenimento noturno no Rio de Janeiro (RJ)

  • É preciso ampliar as investigações sobre o acesso ao diagnóstico e assistência à saúde sexual das populações LGBTTT.[7]

  • Com o propósito de contribuir para essa discussão, o presente trabalho objetiva discutir os descompassos entre as identidades, os desejos e as práticas sexuais, bem como as relações entre identidades sexuais e percepções de risco às DSTs/Aids, de jovens autoclassificadas como lésbicas ou bissexuais

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Summary

Simone Monteiro

Resumo: O artigo discute os descompassos entre as identidades (sexuais e de gênero), os desejos e as práticas sexuais, bem como as relações entre identidades sexuais e percepções de risco às DSTs/Aids de um grupo de mulheres jovens, autoclassificadas como lésbicas ou bissexuais, frequentadoras de espaços de entretenimento noturno no Rio de Janeiro (RJ). O referente conceitual e empírico da abordagem construccionista da sexualidade considera a inserção social, o estilo de vida e os papéis de gênero na compreensão das mudanças nas atitudes e expressões da sexualidade.[39] A partir do advento da epidemia de Aids, esse enfoque ganhou maior visibilidade e contribuiu para reflexões acerca da diversidade sexual e do modo como as identidades sexuais se organizam em torno das interações sexuais, além de apresentar uma postura crítica acerca dos discursos e categorias biomédicas da sexualidade.[40] A despeito dos avanços, cabe ampliar as pesquisas relativas aos sistemas classificatórios, à identidade, à congruência entre comportamento e autodefinição sexuais, aos significados dos atos sexuais e à estabilidade da preferência sexual.[41] Este trabalho visa contribuir nesta direção. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fiocruz (protocolo 488/08), e o trabalho de campo foi desenvolvido majoritariamente por jovens, de ambos os sexos, de diferentes cores/raças, orientação sexual e local de moradia, configurando um grupo heterogêneo.[45]

Espaços de sociabilidade pesquisados e perfil socioeducativo das jovens
Resultados da pesquisa e discussão
Fluidez nas identidades e trajetórias sexuais
Considerações finais
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