Abstract
Este trabalho pretende situar a minissérie Haru e Natsu – as cartas que não chegaram, produzida pela emissora japonesa NHK e transmitida no país pela Rede Bandeirantes, no empreendimento narrativo da saga da imigração japonesa no Brasil, postulando que a ficção televisiva, ao compartilhar versões e saberes acerca de determinada sociedade e época, torna-se ela própria “memória documental e histórica” (Motter 2000/2001). Aborda também a minissérie como uma narrativa sobre a nação, vista não como território, mas como um acervo de recursos identitários. Explora ainda a relação entre o gênero epistolar utilizado como recurso narrativo central nesta minissérie e o ponto de vista feminino que a autora constrói sobre os fatos da imigração japonesa ao Brasil.
Highlights
the letters that didn't arrive produced by the Japanese broadcast corporation NHK
The miniseries is also approached in this work as a narrative
it explores the relationship between the epistolary genre
Summary
Este trabalho é uma análise da minissérie Haru e Natsu – as cartas que não chegaram, ficção televisiva produzida e transmitida pela rede japonesa NHK em 2005, e apresentada no Brasil pela Band em 2008, ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. No caso de Haru e Natsu, pretendo explorar como a carta se torna um recurso narrativo central na composição da história, pois é a partir da correspondência entre as duas irmãs que eventos importantes são revelados e imagens do passado se alternam com as do presente, construindo o “tempo humanamente relevante” da narrativa, e revelando a coerência e a continuidade entre os eventos-chave e os “estados intencionais” dos personagens (BRUNER, 2001 p.131). Finalmente, este trabalho explora a história de Haru e Natsu como uma narrativa sobre uma nação, vista menos como território e mais como um acervo de “recursos identitários” (LOPES, 2004 p.132), tendo em vista a afirmação da autora, Sugako Hashida, que ao escrever sobre os fatos da imigração japonesa no Brasil, ela buscava, na verdade, entender o seu próprio país. Religando e contrastando sons e cenas do Japão pré-guerra transplantado no Brasil dos imigrantes e do Japão pós-guerra modernizado dos que lá ficaram, a narrativa dá coerência e continuidade a uma história que preserva uma identidade (BRUNER, 2001), ao mesmo tempo em que questiona o verdadeiro locus desta identidade japonesa: o imigrante desterrado que conserva dentro de si os valores do passado ou o cidadão ocidentalizado do Japão de hoje? Imagens de documentários e recursos simbólicos como canções e costumes tradicionais japoneses dão o efeito de realidade à ficção, já que esta não é apenas uma história sobre imigrantes, mas sim – e principalmente – uma narrativa sobre a memória e sobre a identidade, pois “mesmo estando no exterior, o japonês será sempre um japonês” (HASHIDA, 2005, p.241)
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