Abstract

No Brasil, poucos sao os textos que se conhecem escritos por pessoas escravizadas ou ja alforriadas. Pelo menos, sao escassos os localizados nas bibliotecas e nos arquivos luso-brasileiros. Por isso, chama muito a atencao que um texto fundamental como o manuscrito de uma congregacao catolica de africanos Mina, de 1786, aproximadamente, e conhecido desde 1881, por constar no Catalogo da Exposicao de Historia do Brasil, so tenha sido editado em 2019, gracas ao atento trabalho da historiadora Mariza de Carvalho Soares. O manuscrito inclui dois dialogos escritos por Francisco Alves de Souza, «preto e natural do Reino de Makii» (13), na Costa da Mina, nos quais ele dialoga com o alferes Goncalo Cordeiro. Eis os dados bibliograficos desta muito esperada edicao: Soares, Mariza de Carvalho (org.) (2019). Dialogos Makii de Francisco Alves de Souza: manuscrito de uma congregacao catolica de africanos Mina, 1786. Sao Paulo: Chao Editora, 238 paginas. [...] Em jeito de conclusao, aponto ainda mais um argumento em defesa de uma edicao critico-genetica desta «Regra ou estatutos» da «Congregacao dos Pretos de Mina-Makii». Se se tratar de um manuscrito autografo, como defende Carvalho Soares, bem que se justificara a conservacao e estudo das peculiaridades da escrita, pois estas sao de extrema utilidade para a historia da lingua na America Portuguesa e porque poderiam indicar algo da personalidade conhecida do autor-escrevente. Mas nao so. Embora me considere um firme defensor das edicoes critico-geneticas, neste caso concreto, pela importância indubitavel do manuscrito, tanto pelo seu evidente valor filologico e historico-cultural, como pela importância etica de editar um texto que serve para recuperar parte de uma silenciada memoria historica de nao poucos brasileiros, muito bem-vinda seria uma comentada edicao facsimilar, que permita ao leitor ter nas maos, quase que na sua propria materialidade fisica, a «Regra ou estatutos» da «Congregacao dos Pretos de Mina-Makii».

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