Abstract

Este artigo apresenta o conceito de falantxs transviadxs, que oferece possibilidades analíticas para entendermos como pessoas em suas práticas locais negociam sentidos para quem são vis-Ã -vis normas que limitam o que podem/devem fazer e como podem/devem falar/escrever, circunscrevendo as fronteiras entre o normal/ideal e o abjeto/monstruoso. O artigo propõe uma perspectiva analítica queer guiada pelos conceitos de indexicalidade e corporificação. Revisito dados gerados em uma pesquisa etnográfica sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis entre travestis com o intuito de entender como performances transviadas (i.e. aquelas que reviram e misturam múltiplos repertórios linguísticos e bagunçam regimes de ordenação do comportamento generificado) emergem e a que propósitos servem localmente.

Highlights

  • DO “FALANTE IDEAL” A “FALANTXS TRANSVIADXS”Chomsky e a geração de linguistas que influenciou privilegiam na investigação da língua o conhecimento inato (i.e. competência) de um falante-ouvinte ideal e relegam a segundo plano a performance linguística (i.e. desempenho), que para o autor só apresenta desvios da norma que desqualificariam a cientificidade almejada pela área

  • This paper advances the concept of transgaysive speakers which provides analytical possibilities to investigate how people, in their daily practices, negotiate meanings for who they are vis-à-vis norms that circumscribe what they can/should do and how they can/should speak/write, drawing boundaries between the normal/ideal and the abject/monstrous

  • Estadefinição queer provoca uma reviravolta inesperada no parafuso referencial e representacional (FABRÍCIO, 2016) que serve de eixo para os estudos da linguagem e, de fato, para outras áreas das ciências humanas e sociais

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Summary

DO “FALANTE IDEAL” A “FALANTXS TRANSVIADXS”

Chomsky e a geração de linguistas que influenciou privilegiam na investigação da língua o conhecimento inato (i.e. competência) de um falante-ouvinte ideal e relegam a segundo plano a performance linguística (i.e. desempenho), que para o autor só apresenta desvios da norma que desqualificariam a cientificidade almejada pela área. Linguistas queer, dessa forma, não recusariam o convite de Indianare e iriam, por assim dizer, de gravador em punhos para o puteiro, onde linguagem, ideologias e práticas ao mesmo tempo restringem e possibilitam a existência social, política e linguística de pessoas de carne e osso. Dessa forma, a dicotomia entre teoria e prática não se sustenta em estudos linguísticos guiados por uma perspectiva queer, pois para que possamos entender a vida social como ela se dá no aqui e agora não podemos impor teorias grandiloquentes e assépticas sobre o caos que constitui nossas ações hodiernas (ver, nesse sentido, MELO, 2020). Revisito dados gerados em uma pesquisa etnográfica desenvolvida em um contexto de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis entre travestis profissionais do sexo (ver BORBA, 2009) com o intuito de entender como performances transviadas (i.e. aquelas que reviram e misturam múltiplos repertórios linguísticos, bagunçando regimes de ordenação do comportamento generificado), emergem e a que propósitos servem localmente

FALANTXS TRANSVIADXS
TRANSVIADAGENS LINGUÍSTICAS

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