Abstract
A história intelectual do século XX tem sido escrita ao longo de um cenário que vê, na morte de Merleau-Ponty em 1961, a linha de divisória entre uma geração existencial e fenomenológica e o evento do estruturalismo imediatamente subsequente. A publicação das notas de leitura de Merleau-Ponty sobre o texto A origem da geometria, de Edmund Husserl, tem mostrado quão frágeis são os alicerces desta leitura simplificadora. Na verdade, enquanto a tradução e introdução de Derrida ao texto de Husserl, de 1962, tornavam-se um texto fundamentador para a geração estruturalista, introduzindo uma reflexão sobre a historicidade e a materialidade da idealidade, foi apenas em 1998, com a publicação das notas da conferência de Merleau-Ponty no Collège de France, em 1959, sobre o mesmo tópico, que se tornou claro quão próximo está o primeiro Derrida do último Merleau-Ponty. Assim como Derrida, Merleau-Ponty identificou, na tensão husserliana entre arqueologia e teleologia, o problema básico da fenomenologia, introduzindo a questão da história e a do meio de transmissão cultural. Comparar tais leituras em seu contexto específico não apenas permite um retrato mais complexo dos debates intelectuais da época, mas também mostra como, com a interpretação de Merleau-Ponty sobre A origem da geometria, a "diferença" de Derrida antecede-se e admite outra genealogia.
Highlights
Atrair a atenção da filosofia das ciências
Não é somente Foucault que se revela bem mais influenciado pela fenomenologia merleaupontyana do que o admitiria publicamente ¬(não falta a nenhuma das aulas de Merleau-Ponty na École Normale Supérieure, em 1947/8 e em 1948/9, ainda que oficialmente versassem sobre Malebranche, Maine de Biran, Bergson e as relações entre corpo e alma, tocavam também, como lembra Didier Eribon, a questão da linguagem (ERIBON 1989, p.49), Derrida é também fortemente influenciado pelo pensamento merleaupontyano, bem mais do que algumas referências, raríssimas, encontradas na sua obra, dão a entender
Se Merleau-Ponty foi o primeiro pesquisador estrangeiro a visitar os Arquivos Husserl de Louvain, em 1939, numa visita que foi decisiva para toda a história da recepção da fenomenologia alemã na França, Derrida aí também se detém desde muito cedo, por ocasião de sua dissertação sobre o Problema da gênese na filosofia de Husserl, redigida sob a orientação de Maurice de Gandillac
Summary
Antes de poder melhor compreender a querela filosófica disto que Leonard Lawlor qualificava corretamente de perturbadora “continuidade” entre Merleau-Ponty e Derrida (LAWLOR 2000, p.337), é preciso relembrar brevemente o contexto histórico que confirma esta ideia. Se Merleau-Ponty foi o primeiro pesquisador estrangeiro a visitar os Arquivos Husserl de Louvain, em 1939, numa visita que foi decisiva para toda a história da recepção da fenomenologia alemã na França, Derrida aí também se detém desde muito cedo, por ocasião de sua dissertação sobre o Problema da gênese na filosofia de Husserl, redigida sob a orientação de Maurice de Gandillac. Que, como Merleau-Ponty, interessa-se muito cedo pelo problema da psicologia do desenvolvimento, e que apresentou uma aula expositiva, em 1954 ou 1955, onde o problema da gênese em Jean Piaget desempenha um papel maior[6], rejeita, ao lado de Husserl, toda psicologização da questão genética: postular alguma coisa como uma origem psicológica do desenvolvimento do indivíduo reconduziria a repetir, dessa vez sobre o aspecto histórico-empírico, a ilusão de uma origem primeira e absoluta visada por toda metafísica. Em 1962, somente a edição comentada da Beilage III
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