Abstract
Neste trabalho, o objetivo é demonstrar como escritas sobre o Brasil fundamentam e são fundamentadas por valores determinantes dos discursos que constroem o senso de vernáculo. São analisados a "Carta" de Pero Vaz de Caminha, escrita chave para a produção do discurso da brasilidade, e o poema "Erro de português", de Oswald de Andrade, tomado como reformulação da escrita fundadora. A implicação ética do acabamento estético das duas escritas em língua portuguesa articula processos de subjetivação que definem identidades culturais possíveis e atualiza uma política linguística que confere tensão entre o caráter genitivo e locativo do vernáculo, respectivamente, do Brasil e no Brasil.
Highlights
The aim in this paper is to demonstrate how writing about Brazil simultaneously founds and is founded by values determinant of discourses which build the sense of a vernacular
É certo que ali não havia de fato o Brasil, mas a escrita primeira projeta um acabamento social imprescindível para consolidação da brasilidade e abre caminho para uma política lusófona em prol do empreendimento lusitano
O que se propõe é reconhecer nas cicatrizes deixadas pelos múltiplos olhares os movimentos simbólicos que definem a memória social do Brasil, a dinâmica identitária e o senso de vernáculo que os atravessa
Summary
Porém relacionados, são decisivos para a construção da vernaculidade. No âmbito do funcionamento cultural, a escrita pode promover relações intersubjetivas sem necessariamente mobilizar o indivíduo, uma vez que atualiza a memória objetiva – aquela registrada nas línguas, nos gêneros do discurso, nos rituais, enfim, na cultura – e não somente a subjetiva – aquela que atravessa os responsáveis pela transmissão do saber (Bakhtin, 2002; 2010; Amorim, 2009). Para alcançar o objetivo de demonstrar como tais escritas refletem valores integrantes da memória cultural brasileira e refratam apreciações definidoras dos discursos que constroem o senso de vernáculo, propõe-se o seguinte roteiro de análise: no primeiro documento, destacam-se índices dos sujeitos em interação e notas interpretativas que revelam fronteiras ideológicas entre acabamento cultural autóctone e europeu; no segundo, são focados elementos léxico-gramaticais de retomada da “Carta” e índices do juízo sobre a “Carta”. O universo simbólico-político resgatado na escrita histórica fundadora do processo de significação do Brasil não deve ser ingenuamente interpretado como uma esfera de sentido imune à realidade social com que se depara. Para dar continuidade à análise das escritas da brasilidade no processo de construção do vernáculo, retomam-se as perguntas norteadoras: como o poema/dedicatória “Erro de português”, de Oswald de Andrade, altera os lugares sociais possíveis para os sujeitos no Brasil? Como essa alteração interfere na política lusófona? De que maneira a potencialidade semântica do poema reflete e refrata a memória cultural e documenta o vernáculo brasileiro?
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