Abstract

Este é um convite a descobrir as epistemologias da latitude zero, ou seja, aquilo que sabem aqueles que não sabem: quer porque são crianças, quer porque são africanas; tanto porque são marginalizadas pelo adultocentrismo quanto porque são invisibilizadas pelo eurocentrismo. No quadro teórico da sociologia da infância e no âmbito das teorias pós-coloniais estão presentes os pressupostos de reflexividade, colaboração e participação, os quais também ecoam na utilização das metodologias visuais. Assim, a escrita deste artigo faz uso dos registos fotográficos para a revelação dos saberes das crianças santomenses e a provocação de questionamentos: a normatização das brincadeiras das crianças e a valorização do ato de brincar em si próprio; a preservação da relação entre a criança e a natureza enquanto palco privilegiado do brincar; e a promoção de relações significativas com as crianças, (re)conhecendo as suas culturas lúdicas.

Highlights

  • This article is an invitation to discover the epistemologies of latitude zero

  • Infanc. 1, 2017: 81-106 cal framework of sociology of childhood and the scope of postcolonial theories share the assumptions of reflexivity, collaboration and participation, which are incorporated in the use of visual methodologies

  • No âmbito dos estudos da criança, a pesquisa que subjaz ao presente texto reconhece as crianças como atores sociais competentes nos seus mundos, o que implica o corte com o “adultocentrismo” – aqui entendido como a perspetiva que estuda as crianças a partir do entendimento dos adultos, das suas expectativas face às crianças, e/ou das suas próprias experiências infantis (Sarmento, 2005)

Read more

Summary

Introdução: o que sabem as crianças que não sabem

Neste artigo convida-se a refletir sobre o contributo que os saberes das crianças de São Tomé e Príncipe podem oferecer à multivocalidade das ciências sociais, insertas no domínio das questões da pós-colonialidade, ao resgatar aquelas vozes infantis no âmbito de uma investigação etnográfica realizada na área de sociologia da infância. Ao longo do estudo realizado com as crianças em São Tomé e Príncipe, vai-se percebendo que a história da infância e a norma da infância ocidental (Mead, 1970; James e Prout, 1990; Rogoff, 2003; Nsamenang, 2006; Gaitán, 2006; Gottlieb, 2012; entre outros), colocam na periferia os fenómenos sociais, culturais e históricos de um sul que representa simbolicamente um saber subordinado e que são excluídos tanto por ser sobre crianças quanto por elas serem africanas. São brevemente elencados alguns dos saberes revelados pelas crianças santomenses (sobre as suas atividades lúdicas, sobre a sua relação com a natureza e sobre as suas relações intergeracionais), os quais permitem reafirmar a proficuidade de descentrar o nosso olhar, adotando novas perspectivas para o estudo da infância, inclusive junto das crianças que não sabem. Finalmente, tendo em conta as revelações que as crianças fazem e algumas das reflexões que sobre elas se podem fazer, irá concluir-se que ouvir as vozes marginalizadas pelo adultocentrismo nos estudos da infância e invisibilizadas pelo “eurocentrismo esmagador” (Chakrabarty, 2000: 27) dos estudos das ciências sociais, tal como no estudo aqui empreendido, pode auxiliar-nos a vislumbrar outras possibilidades de “tradução” do quotidiano da infância e das formas de vida das crianças, acautelando o evitamento de novas (re)invenções de África (Mudimbe, 1994)

De onde se observa a infância
Como se escutam as crianças
Os saberes das crianças santomenses
Saberes sobre o brincar e a sua relação com a natureza
Saberes sobre as suas relaçãos intra e intergeracionais
Revelações e reflexões
Referências bibliográficas
Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call