Abstract

O presente artigo propõe-se primeiramente a examinar o argumento de Seth Kim-Cohen sobre a existência de um divisor de águas nas artes em meados do século XX a que atribui a origem de uma “virada epistemológica e ontológica” cultural profunda – situada, na música, no ano de 1948. Kim-Cohen aponta nessa data a confluência de três eventos decisivos para isso: o início das experimentações sonoras do engenheiro Pierre Schaeffer, nos estúdios da ORTF (Office de Radiodiffusion Télévision Française) e a primeira composição silenciosa de John Cage – lançando os princípios da música concreta e da aleatoriedade na música, como alternativa ao paradigma da música ocidental erudita. O terceiro evento assinalado por Kim-Cohen refere-se às gravações elétricas pioneiras de Muddy Water, em que a tecnologia, usada tanto na gravação como na reprodução sonora, por um lado amplifica e modifica o som acústico, por outro interfere na relação presença/ausência, dada pela interação entre os próprios músicos na performance musical, entre músicos e ouvintes, entre produção sonora e espaço acústico, além de tornar possível, a ampla circulação e utilização de músicas.
 Sob essa perspectiva, o artigo busca compreender os possíveis efeitos da introdução de tecnologias na produção e reprodução sonora, no século XX sobre a escuta na pós-modernidade e, de outro lado, sobre a composição musical, em particular, sobre a poética do compositor Luciano Berio, enquanto pensamento musical e estético. A escolha desse compositor entre tantos se justifica primeiramente pelo interesse na maneira como mostra articular muitas das questões que se apresentaram à sua geração, especialmente no que concerne à relação entre legado, ruptura e inovação, entre som-em-si e os significados implícitos em suas escolhas, entre o seu itinerário pessoal e a consciência do seu tempo, entre expressão pessoal e o sentimento de responsabilidade histórica, entre a representação da nacionalidade e a alteridade.

Highlights

  • For understanding the effect of 20th century’s new technology in sound production and reproduction over postmodernity musical listening and composition, we focuse such effects in what they relate to composer Luciano Berio’s poetics as both a musical and aesthetical thought. The choice of this composer among so many others is justified first and foremost by the particular way in which he articulates many of the questions that presented themselves to his generation, especially those between legacy, rupture and innovation, between sound-in-itself and the implicit meanings of his choices, between his personal journey and the awareness of his time, between personal expression and the feeling of historical responsibility and, between representation of nationality and alterity

  • Desde maio de 2008 é docente do Departamento de Música da ECARP (atualmente Departamento de Música da FFCLRP), na área de Educação Musical, atuando ainda nas áreas de Percepção Musical e Regência e Canto Coral

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Summary

MUSIC IN LUCIANO BERIO

O presente artigo propõe-se primeiramente a examinar o argumento de Seth Kim-Cohen sobre a existência de um divisor de águas nas artes em meados do século XX a que atribui a origem de uma “virada epistemológica e ontológica” cultural profunda — situada, na música, no ano de 1948. O terceiro evento assinalado por Kim-Cohen refere-se às gravações elétricas pioneiras de Muddy Water, em que a tecnologia, usada tanto na gravação como na reprodução sonora, por um lado amplifica e modifica o som acústico, por outro interfere na relação presença/ausência, dada pela interação entre os próprios músicos na performance musical, entre músicos e ouvintes, entre produção sonora e espaço acústico, além de tornar possível, a ampla circulação e utilização de músicas. 2018 sonora, no século XX sobre a escuta na pós-modernidade e, de outro lado, sobre a composição musical, em particular, sobre a poética do compositor Luciano Berio, enquanto pensamento musical e estético.

Após as vanguardas
Considerações finais
Referências bibliográficas
Sobre as autoras
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