Abstract
A tradução é uma atividade que envolve muitas complexidades, entre as quais a constituição da ética e da autoria do tradutor, que precisam ser mais discutidas. Assim, este trabalho busca refletir sobre como a invisibilidade oculta a constituição autoral do tradutor, impactando, também, na ética do tradutor, em traduções domesticadoras. Para demonstrar os pontos discutidos, são apresentados alguns exemplos retirados de uma tradução domesticada e adaptada do conto The Yellow Wallpaper (1892), da escritora Charlotte Perkins Gilman. Até que ponto o tradutor pode interferir na escrita do autor do original? Quais são os impactos da presença discursiva do tradutor para a obra e para o seu leitor? Sabe-se que o discurso do tradutor está sempre presente em seu trabalho, por meio de suas escolhas lexicais, estratégias e técnicas utilizadas em sua tradução. No entanto, a invisibilidade ilusória continua a ser praticada pelo mercado e instituições, apontando para a necessidade de se retomar a discussão. Além disso, é preciso considerar que tais questões têm implicações para a ética do tradutor. Assim, o referencial teórico da área dos estudos da tradução dá a base para as reflexões, tomando, como ponto de partida, as contribuições de Venuti (1995) para a área e o tema.
Highlights
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1 Do original: The rise of originality started along the Middle Ages and gained force in Romanticism when the notion of genius became widespread
Up to the beginning of Romanticism geniality remains as a gift to some chosen ones, but it is along Romanticism that geniality moves from the outside of the artist to his inside, for the muses are replaced by an internal geniality
Summary
O filósofo Michel Foucault (2014), ao refletir sobre o que é um autor, trata essa figura como uma função do discurso, o posicionando “como uma unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência”. Ou coautoria, do tradutor, também é possível relacionar a concepção de que traduzir “é a forma mais reconhecível de reescritura e potencialmente mais influente por sua capacidade de projetar a imagem de um autor e/ou de uma (série de) obra(s) em outra cultura” Aslanov (2015) complementa essa noção ao considerar a transferência do texto entre línguas como um ato de manipulação do texto, uma vez que a “língua dita certo tom, certo jeito que é irredutível em outra língua, de modo que o tradutor que se reescreve em outro idioma (mas do que se traduz para ele) tem outro estilo, outro gosto e até outra concepção de mundo” Conceber a prática tradutória como reescritura e manipulação é concordar que na figura do tradutor há, também, uma identidade autoral por trás do seu ofício. Existem dois sentidos básicos em que o termo originalidade é usado e, embora sejam diferentes, eles não são facilmente separados (BRISOLARA, 2011, p. 109-110, tradução nossa)[2]
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