Abstract

Sob uma perspectiva decolonial, este artigo visita dois romances escritos por autoras brasileiras cujas protagonistas são também mulheres: Amrik, da cearense Ana Miranda, e Ponciá Vicêncio, da mineira Conceição Evaristo. As noções de disputas epistemológicas e ecologia dos saberes de Boaventura de Sousa Santos servem de impulso para identificar quais conhecimentos estão em jogo nas narrativas e compreender de que maneira se relacionam, se mesclam ou se contrapõem aos conhecimentos ocidentais hegemônicos. Esta análise política e literária nos mostra que a diversidade do mundo, em seu caráter inesgotável, não admite uma única epistemologia adequada, mas demanda uma ecologia dos saberes que abranja a também inesgotável diversidade de experiências não canônicas de conhecimento.

Highlights

  • In a decolonial perspective, this article visits two novels, written by Brazilian authors, whose protagonists are women: Amrik, by Ana Miranda, and Ponciá Vicêncio, by Conceição Evaristo

  • Os romances brasileiros que escolhi visitar para inspirar esta reflexão – Amrik, da cearense Ana Miranda, publicado pela primeira vez em 1997, e Ponciá Vicêncio, da mineira Conceição Evaristo, publicado pela primeira vez em 20033 – compartilham o fato de serem protagonizados por personagens femininas inesquecíveis na literatura brasileira no século XX4 e a possibilidade de levantar discussões a partir de uma ótica decolonial

  • Mestranda em Literatura no Programa de Pós-graduação em Literatura, na linha de pesquisa Crítica Feminista e Estudos de Gênero pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Read more

Summary

Ponciá Vicêncio

O barro (ou argila) e o trabalho manual que o transforma em obras de cerâmica assume alguns papéis importantes na narrativa de Ponciá Vicêncio: uma habilidade legada pela mãe para a filha; um fragmento de memória que, no presente, conecta os membros da família ao passado em que estavam juntos e serve como fio de esperança para o reencontro no futuro; e, por fim, um objeto que conta partes de uma história coletiva, uma história que tenta sobreviver em meio aos esforços colonizadores de calar vozes e invisibilizar narrativas não canônicas. Enquanto espera o trem de volta para a cidade, Ponciá passa alguns dias nas “terras dos negros”, nas quais encontra os trabalhos de barro feitos por ela e sua mãe no passado O clímax ocorre quando Luandi encontra trabalhos de barro feitos por sua mãe e sua irmã, “Criações feitas, como se as duas quisessem miniaturar a vida, para que ela coubesse e eternizasse sobre o olhar de todos, em qualquer lugar” Enquanto para o tio Naim a dança é insuficiente em termos de conhecimento, Amina parece seguir em sintonia com os ensinamentos de avó, que dizia que o corpo “não pode ser rejeitado nem esquecido ele não é inferior” Afinal, a que possibilidades de reflexão nos levam todos esses entrecruzamentos de saberes em Ponciá Vicêncio e Amrik?

Saberes e memórias do barro e da dança
Por uma ecologia dos saberes
Full Text
Paper version not known

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call