Abstract

O principal objetivo do presente estudo é o de demonstrar que a historiografia brasileira tem magnificado a responsabilidade brasileira nos acontecimentos de março de 1926 na Liga das Nações e que se concentra demasiadamente nas motivações do governo de Artur Bernardes, sem considerar aspectos decisivos concernentes à política internacional, notadamente a européia, e questões de ordem institucional próprias da Liga. Portanto, parece mais do que importante inserir internacionalmente a diplomacia de Bernardes, ou seja, pensá-la no contexto do fiasco da própria diplomacia internacional, dos "vinte anos de crise".

Highlights

  • Mais uma vez os delegados brasileiros têm a satisfação de comunicar ao governo no Rio que o Brasil permanecia no Conselho, mas as preocupações quanto ao futuro acentuam-se, já que uma nova reeleição é tida como totalmente impossível[26]

  • “a Alemanha entraria sozinha no Conselho.(...) Toda [a política do governo] baseia-se nessa tese única (...).”[67]. Briand e Chamberlain negam ter prometido a entrada exclusiva da Alemanha, insistindo sobre seus compromissos com certas nações que haviam solicitado sua admissão como membros permanentes no Conselho: fala-se principalmente da Polônia e da Espanha e, ainda que raramente, algumas menções são feitas ao Brasil[68]

  • Na manhã de 17 de março, horas antes de a Assembléia reunir-se, Mello Franco envia ao Presidente Bernardes um último apelo, a pedido dos países latinoamericanos, para que o governo brasileiro volte atrás em sua decisão

Read more

Summary

Os anos na Liga: revisitando o histórico

Em 1921, que o grande interesse demonstrado pelos brasileiros com relação à Liga das Nações explicava-se “provavelmente não porque têm o menor conhecimento ou interesse pelos problemas europeus atuais, mas simplesmente porque a indicação de brasileiros notáveis para postos importantes no Conselho e na Corte Permanente [de Justiça Internacional] aumenta o orgulho nacional.”[5]. Apesar da resistência do Presidente da República e do Ministro Félix Pacheco às modificações feitas à fórmula original, que previa a criação de dois assentos permanentes para o Brasil e para a Espanha − sobretudo quanto à idéia de o Brasil substituir os Estados Unidos, que poderia ser interpretada como ato de “vassalagem à grande República”19 −, Mello Franco escreve confidencialmente a Robert Cecil, León Bourgeois, representante belga, e Hjalmar Branting, representante sueco, expondo em detalhes sua fórmula. Também em 1924, o governo brasileiro dá início a uma campanha no Brasil, intensificada em 1925, para divulgar seu objetivo de obter um assento permanente no Conselho da Liga, o que passa a ser divulgado nos jornais cariocas pró-governo com muita intensidade. Mais uma vez os delegados brasileiros têm a satisfação de comunicar ao governo no Rio que o Brasil permanecia no Conselho, mas as preocupações quanto ao futuro acentuam-se, já que uma nova reeleição é tida como totalmente impossível[26]

O problema alemão
A possibilidade do recurso ao veto
O veto
A negligência franco-britânica às regras do jogo
Visões brasileiras
O olhar dos contemporâneos
Os estudos recentes
Elementos para uma nova interpretação
Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call