Abstract

Objetivo: avaliar criticamente os achados histopatologicos e a relacao custo/beneficio da dilatacao e curetagem uterina (D&C) no rastreio do sangramento uterino anormal (SUA). Metodo: analise retrospectiva dos resultados histopatologicos de 542 D&C praticadas por SUA na Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Ciencias Medicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ), de janeiro de 1984 a janeiro de 1994. As pacientes foram divididas em dois grupos: Grupo 1 - pacientes com idade igual ou inferior a 50 anos (n = 385) e Grupo 2 - pacientes com mais de 50 anos (n = 157). Foram excluidos desse estudo os casos de curetagens de urgencia. Todas as curetagens foram realizadas sob narcose. O tempo medio de internacao foi de tres dias. Considerou-se resultado patologico negativo quando o laudo histopatologico mostrou endometrio tipo proliferativo, secretor, atrofico ou iatrogenico. Este ultimo termo refere-se a endometrio sob possivel influencia de medicacao hormonal. Considerou-se resultado patologico positivo quando o laudo histopatologico evidenciou algum tipo de lesao. Resultados: no Grupo 1 encontrou-se resultado patologico negativo em 50,2% dos casos, resultado patologico positivo em 39,7% dos casos e material insuficiente para diagnostico (MIPD) em 10,1% dos casos. Polipo endometrial e mioma submucoso foram observados em apenas 5,5% e 4,4%, respectivamente. O câncer foi de observacao incomum nesse grupo, sendo encontrado o adenocarcinoma do endometrio (ACE) em apenas 1,3% dos casos (n = 5), numa relacao de 77 D&C para um ACE. No Grupo 2 observou-se resultado patologico negativo em 38,3% dos casos, resultado patologico positivo em 38,1% dos casos e MIPD em 23,6% dos casos. Polipo endometrial e mioma submucoso foram diagnosticados em somente 5,1% e 0,6%, respectivamente. Lesoes malignas foram encontradas em 12% dos casos, sendo 9,5% (15 casos) de ACE, mostrando relacao de um ACE para 10 D&C. Conclusoes: consoante o conhecimento atual sobre a etiopatogenia do SUA este estudo mostrou que a D&C diagnostica tradicional tem baixa acuracia na avaliacao daquele sangramento e relacao custo/beneficio incompativel com a medicina atual. Portanto, nao deve ser o exame de primeira escolha. Considerando, contudo, que o ACE foi encontrado em uma de cada 10 D&C em mulheres com mais de 50 anos com queixa de sangramento uterino, pode-se indicar D&C com mais liberalidade nesse grupo, uma vez que nao se disponha de histeroscopia com biopsia dirigida. Atualmente, a D&C nao tem mais um papel significante no rastreio do SUA como tinha ha alguns anos. Entretanto, o procedimento ainda encontra indicacao em algumas situacoes e nao pode ser de todo abandonado, devendo sua indicacao obedecer a criterios restritos.

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