Abstract

O objectivo deste estudo era analisar as dimensões da desonestidade e sua evolução na população portuguesa, desde a infância até ao fim da adolescência. Para isso utilizaram-se dados de um estudo longitudinal em que a desonestidade nos trabalhos escolares foi avaliada, várias vezes, em diversos níveis de escolaridade. Os resultados mostraram que a fraude académica aumenta progressivamente ao longo da adolescência de tal maneira que, na escola secundária, a grande maioria dos estudantes confessava ter copiado uma ou duas vezes nos testes, durante o último ano. Porém, apenas uma pequena percentagem admitiu ter feito isso várias vezes no último ano. Do mesmo modo, só poucos referiram ter-se envolvido nesse tipo de conduta em todas as fases desta investigação, ou seja, do ensino básico até ao fim da escola secundária. Por sua vez, a comparação entre os alunos com e sem desonestidade académica revelou que os dois grupos apresentavam entre si, de modo sistemático, muito poucas diferenças estatisticamente significativas. Estas surgiam, sobretudo, no domínio dos comportamentos anti-sociais, do consumo de droga e dos problemas de atenção/impulsividade. Tais resultados sugerem que a fraude académica, embora muito comum no fim da adolescência, é simplesmente uma manifestação de uma tendência ou traço anti-social subjacente. Mas, além desta característica da personalidade, outros factores, de natureza individual ou situacional, contribuem para a explicação da falta de honestidade académica, nestas idades.

Highlights

  • Tais resultados são muito semelhantes aos reportados em estudos anteriores, noutros países, e reforçam a ideia de que a falta de honestidade pode ocorrer em todos os níveis sociais e em todos os graus escolares, sendo independente do sexo dos sujeitos e do tipo de escola frequentada

  • O leque de variáveis incluídas nesta categoria abrangia o número de repetências, os resultados em provas académicas aos 11-12 anos, as atitudes para com a escola, a vinculação aos professores, o número de negativas, o abandono escolar ou as dificuldades de aprendizagem reportadas pelos pais e professores aquando da primeira avaliação desta coorte

  • De modo sistemático, foram encontradas entre os alunos com e sem desonestidade académica diziam respeito apenas a três grandes características de natureza individual: comportamento anti-social, consumo de droga e problemas de atenção

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Summary

Rapazes Raparigas

Estes resultados não diferem muito dos que vêm descritos em estudos realizados anteriormente noutros países, alguns dos quais mostram mesmo prevalências mais elevadas. Como se pode ver pelos gráficos 3 e 4, quando a análise incide apenas sobre os alunos que se envolvem mais intensamente nesse tipo de conduta (várias vezes no último ano) as prevalências são muito mais baixas. Verifica-se que este tipo de desonestidade académica começa muito mais cedo do que habitualmente vem referido na literatura, aparecendo já nos primeiros anos do ensino básico. As análises que se seguem dizem respeito apenas a esses grupos da coorte mais jovem, os quais foram comparados em diversas medidas relativas a variáveis habitualmente consideradas relevantes para a explicação da desonestidade académica: factores sociodemográficos, familiares, escolares ou da personalidade. Prob. de atenção (TRF) Prob. de atenção (YSR) Vinculação Comunicação Alienação Problemas de leitura Interpretação de textos Gramática Ansiedade Depressão Problemas de internalização (YSR) Comportamentos anti-sociais Problemas de externalização (YSR)

Consumo de droga
Características sociodemográficas
Vinculação aos pais
Características escolares
Problemas emocionais e outras formas de psicopatologia
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