Abstract

Partimos da peça musical Disintegration Loops de William Basinski. A obra, com cerca de uma hora de duração, é constituída por um ostinato que se deteriora até ao ruído e, por fim, ao silêncio. Basinski digitalizou o som de velhas bobines de loops feitas por si nos anos 80 para memória em disco; por força do pó e da oxidação, ao serem tocadas no leitor magnético as fitas começaram a degradar-se progressivamente. A reprodução do som, e o esforço para a sua preservação, implicou a sua destruição que, ainda assim, ficou gravada num novo meio. Questionam-se aqui os efeitos das migrações entre meios (analógico/digital) e a tensão entre a cristalização do simbólico pela técnica e a irredutível instabilização entrópica que daí resulta. A estrutura interna da peça acentua a noção de repetição como uma forma também instável e dinâmica que cria algo de novo. Esboça-se então uma crítica ao determinismo e ao automatismo que por vezes revestem a técnica e a tomam como um “círculo perfeito”. O percorrer dessa circunferência, com o desgaste que lhe provoca e com as hesitações e os ritmos humanos, mostra que tal círculo não é perfeito e que a “desintegração” é, afinal, metáfora da natureza humana.

Highlights

  • Our starting point is the musical piece Disintegration Loops, by William Basinski

  • É preciso então que nos resignemos a ser um relógio que mede a passagem do tempo, ora avariado, ora reparado, e cujo mecanismo gera desespero e amor assim que o seu criador o põe em marcha? Cresceremos nós habituados à ideia de que todo o homem revive as angústias antigas, que são ainda mais profundas porque se tornam mais ridículas com a repetição? Que a existência humana se deva repetir a si mesma, tanto melhor, mas que se repita como uma música vulgar, ou como um disco que um bêbado continua a tocar enquanto coloca moedas numa jukebox

  • Investiga e publica nas áreas da filosofia da técnica, da teoria dos média e da cultura

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Summary

Manuel Bogalheiro

Resumo Partimos da peça musical Disintegration Loops de William Basinski. A obra, com cerca de uma hora de duração, é constituída por um ostinato que se deteriora até ao ruído e, por fim, ao silêncio. Basinski digitalizou o som de velhas bobines de loops feitas por si nos anos 80 para memória em disco; por força do pó e da oxidação, ao serem tocadas no leitor magnético as fitas começaram a degradar-se progressivamente. A reprodução do som, e o esforço para a sua preservação, implicou a sua destruição que, ainda assim, ficou gravada num novo meio. A estrutura interna da peça acentua a noção de repetição como uma forma também instável e dinâmica que cria algo de novo. Esboça-se então uma crítica ao determinismo e ao automatismo que por vezes revestem a técnica e a tomam como um “círculo perfeito”.

Transcodificação e impossibilidade da estabilização
Da entropia à coexistência de níveis
Referências bibliográficas
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