Abstract

Durante a pré-história, a debitagem laminar é um modo de produção característico de determinados períodos e regiões. No Brasil, no momento, foi reconhecida em três sítios arqueológicos situados no alto vale do rio Uruguai (SC/RS), em contextos sedimentares que datam do Holoceno inicial. Até hoje, somente os produtos dessa debitagem, as lâminas, tinham sido encontrados. A falta dos núcleos impedia um entendimento completo do processo de lascamento desses suportes. Graças à retomada das pesquisas na região desde 2013, foi possível coletar núcleos associados a essa produção laminar. Nesse artigo, descrevemos cinco desses núcleos. Suas análises demonstram que essa debitagem laminar corresponde a um único conceito. A estrutura volumétrica do núcleo que resulta desse conceito respeita as seguintes normas: 1) Os núcleos apresentam duas superfícies: um dorso plano e uma superfície de debitagem convexa mas relativamente achatada. Em uma extremidade, uma pequena superfície plana serviu de plano de percussão; 2) A debitagem começa por uma fase de inicialização durante a qual o plano de percussão é produzido por uma grande retirada. Em função das propriedades naturais do volume inicial, o dorso do núcleo é obtido, seja durante a seleção do bloco, seja por uma preparação por grandes retiradas transversais. Quando existem ainda, os negativos de retiradas da inicialização da superfície de debitagem indicam um método centrípeto; 3) As lâminas são sempre produzidas por um método unidirecional paralelo. A variabilidade desta debitagem é principalmente relacionada à técnica de lascamento: a percussão com pedra e a percussão com percutor orgânico foram utilizadas para a obtenção das lâminas. As informações tecnológicas fornecidas pelos núcleos aqui analisados são coerentes com essas observações oriundas da análise das lâminas. Com esses dois estudos consegue-se atingir um conhecimento completo desse sistema de produção do alto vale do rio Uruguai durante o Holoceno inicial, a única debitagem laminar documentada até hoje no Brasil.

Highlights

  • Vários núcleos que correspondem a esta produção laminar foram encontrados em superfície, em áreas de erosão nas duas margens do rio Uruguai, nos sítios Linha Policial 7 (ACH-LP-07) e Uruguai 1 (RS-URG-01) (Figuras 1 e 2)

  • Quando foi obtida na fase de inicialização, a superfície plana do dorso resulta de um ou vários grandes negativos de retiradas produzidas segundo uma direção perpendicular ao eixo longitudinal do núcleo

  • Latin American Antiquity, 22: 359-383. (em espanhol; in Spanish) (“Mobilidade, acesso e uso de ágata translúcida pelos caçadores-coletores antigos durante a transição Pleistoceno-Holoceno no norte do Uruguai”; “Mobility, access and use of translucent agate by early hunter-gatherers during the Pleistocene Holocene transition in North Uruguay (ca. 11,000-8500 BP)”) doi:10.7183/1045-6635.22.3.359

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Summary

Introdução

A ocorrência da produção em série de lascas nitidamente alongadas (“lâminas”), ou seja, da debitagem laminar, é já bem conhecida no cone sul da América meridional, especificamente na Argentina (Barros et al 2014; Hermo & Magnin 2012; Hoguin 2013; Nami 1996) e no Uruguai (Suarez 2011) em contextos datados da primeira metade do Holoceno. A presença dessa produção de lâminas logo chamou a atenção dos pesquisadores, mas o entendimento do esquema de produção destas peças ficava limitado, devido à ausência, nos três sítios, de núcleos provenientes das cadeias operatórias de debitagem laminar. Esse estudo demonstrou que tais suportes alongados foram produzidos a partir de diferentes técnicas de lascamento (percussão com pedra e percussão com percutor orgânico), mas seguindo sempre o mesmo método: uma inicialização centrípeta do núcleo nas partes onde era necessário modificar as propriedades naturais do bloco e, em seguida, uma produção unidirecional das lâminas. Vários núcleos que correspondem a esta produção laminar foram encontrados em superfície, em áreas de erosão nas duas margens do rio Uruguai, nos sítios Linha Policial 7 (ACH-LP-07) e Uruguai 1 (RS-URG-01) (Figuras 1 e 2). Apresentamos a seguir a análise tecnológica dos cinco núcleos encontrados nas coletas de superfície de 2013 e 2014

Contexto
Descrição dos núcleos
Os aportes dos núcleos
Voltando às lâminas
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