Abstract

Neste artigo, parte de uma pesquisa mais ampla sobre a representação discursiva do parto, realizamos análise discursiva crítica de uma carta ao obstetra que tematiza a violência obstétrica. A justificativa para a escolha desse tema é a hospitalização do parto no Brasil, onde se observa um índice de 82% de cesarianas na rede privada, o mais alto do mundo. E a escolha do objeto justifica-se por se tratar de gênero discursivo inovador e relacionado ao movimento pró parto natural no Brasil. Partindo de categorias analíticas como avaliação, coesão, modalidade, pressuposição, intensificação, investigamos estilos no texto, considerando a construção discursiva de identidade e identificação. Nossa análise aponta alto teor de intensificação e negação, além da expressão recorrente de afetos, julgamentos e apreciações. Considerado o documento como registro de uma conjuntura, interpretamos a avaliação do comportamento da médica como parte de uma crítica mais ampla ao modelo de assistência vigente no Brasil, o que materializa aspectos da luta hegemônica travada no discurso.

Highlights

  • Este artigo apresenta análise de uma carta ao obstetra, um estudo que se insere em uma pesquisa mais ampla sobre a representação discursiva da gestação e do parto[1], embasada no referencial teóricometodológico da Análise de Discurso Crítica (ADC), especialmente em sua vertente de origem inglesa (Fairclough 1989, 1992, 1995, 2003; Chouliaraki & Fairclough 1999), e em seu desenvolvimento no Brasil

  • In this paper, which is part of a broader study on the discursive representation of pregnancy and childbirth, we present a critical discourse analysis of a ‘letter to the obstetrician’

  • Employing analytical categories as assessment, cohesion, modality, presupposition and intensification, we investigate styles in the text, considering the discursive construction of identity and processes of identification

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Summary

Problema social: “A verdadeira dor do parto é a violência”3

A questão motivadora da pesquisa de que este artigo é um recorte é o quadro de violência obstétrica na sociedade brasileira nas últimas décadas. 31.2 2015 taxas referentes à realidade brasileira indicadores da constante conversão do evento fisiológico que é o parto em um processo patológico, e também do uso abusivo de medicação, ou seja, da violência obstétrica institucional vigente no Brasil. O trabalho de Aguiar (2010) enfatizou esse aspecto problemático do nascimento no Brasil, argumentando que isso diz respeito não apenas às elevadas taxas de cesáreas mas também a outras formas de violência contra a mulher no momento do parto. Esse quadro tem motivado a mobilização de mulheres das mais diversas áreas num engajamento em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, que incluem uma assistência digna durante a gestação, o parto e o pós-parto. As questões iniciais que orientam nossa pesquisa são: (a) Como os atores sociais envolvidos na gestação, no parto e na assistência se identificam/são identificados em narrativas sobre o parto? (b) A que discursos se vinculam essas representações/ identificações? (c) Como esses atores sociais representam o parto? (d) Como essas representações se relacionam com a conjuntura mais ampla em que se inserem? A análise que apresentamos neste artigo focaliza, de forma mais direta, as questões (a) e (b)

Corpus analítico: sobre Elena e sua carta
Estilos: o funcionamento social da linguagem e a identificação em textos
Momento analítico: análise discursiva crítica da carta de Elena
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