Abstract
Este artigo tem como objetivo investigar o cuidado e o controle na relação entre adulto e criança, considerando, especialmente, atravessamentos como o tempo e a alteridade no cenário contemporâneo ocidental. Para viabilizar essa discussão, fez-se uso da perspectiva laplancheana em diálogo com outros autores, a partir do método psicanalítico de pesquisa. Segundo a perspectiva laplancheana, a criança, desde o início, é confrontada com um mundo sexual adulto cheio de significados, cheio de mensagens que excedem as suas capacidades de apreensão e de controle. Os destinos para o pulsional, que serão construídos pela criança, estão alicerçados nesse encontro com o adulto, e no cuidado recebido. Considera-se que o exercício do cuidado, e do controle intimamente articulado a ele, pressupõe um modelo de relação pautado na alteridade. Além disso, considera-se que o exercício do cuidado demanda do adulto um tempo complexo e indeterminado de elaboração dos afetos produzidos pelo encontro com a criança. Entretanto, alguns aspectos da contemporaneidade, como o individualismo e uma supressão da dimensão temporal, parecem estar na contramão dos vínculos alteritários e do tempo demandado pelo cuidado. Diante desse aparente “desacordo” entre o cuidado que as crianças necessitam, e algumas características da contemporaneidade, busca-se discutir possíveis modalidades de controle na relação adulto-criança que podem se desarticular do cuidado, e estar a serviço da manutenção de uma moral sexual “civilizada” contemporânea.
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