Abstract

As serpentes, desde os primórdios da humanidade, são alocadas em relatos míticos e lendários de diversasetnias e regiões de todo o mundo devido à sua capacidade histórica de despertar o imaginário popular. No Brasil, empraticamente todas as regiões, existe uma grande riqueza de crenças envolvendo esses animais. A fim de realizar umlevantamento etnográfico sobre as crenças e suas respectivas inferências científicas envolvendo ofídios no estado do Ceará,Nordeste do Brasil, foram realizadas, entre os anos de 2008 e 2010, entrevistas semiestruturadas com “especialistaslocais” selecionados nos municípios de Aratuba, Pacoti e Mulungu (área serrana); Itapajé, Irauçuba e Tururu (área sertaneja)e o litoral de São Gonçalo do Amarante e Caucaia (área litorânea). Nas áreas abordadas, há uma diferenciação entre “cobrascom ou sem veneno”, sendo que a maioria das serpentes consideradas peçonhentas pelos entrevistados não possuempotencial venômico letal ao ser humano. Os entrevistados afirmam a prioridade de uso do soro antiofídico em caso deacidentes, porém eles consideram outros procedimentos caseiros como eficazes. Para determinadas espécies de serpentes,foram levantadas crenças constituídas por assimilações de caracteres morfológicos, fisiológicos e ecológicos, a maioria dasquais não corrobora a literatura zoológica. Isso acontece provavelmente porque o sentimento de medo impede umaaproximação que pudesse promover um conhecimento popular que corroborasse de maneira mais consistente o conhecimentocientífico. A relação conflituosa entre humanos e serpentes leva a uma justificativa leiga para o abate indiscriminado dessesanimais, causando problemas ambientais e de saúde pública graves, que devem ser solucionados principalmente através depolíticas públicas de educação ambiental, prevenção e tratamento de acidentes ofídicos.

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