Abstract

Nosso objetivo neste artigo é contar uma parte da história do português do Brasil a partir do contato com as línguas indígenas nacionais. Para realizar esse objetivo, buscamos trabalhos que versam sobre a presença real de características gramaticais e sonoras das línguas dos povos indígenas no português falado pelos membros desses povos. A interferência das gramáticas nativas dos povos indígenas é discutida a partir de propriedades sonoras consonantais e vocálicas do Português Ticuna (BONIFÁCIO, 2019); de propriedades consonantais do Português Kamaiurá (SILVA E SILVA, 1985); de propriedades gramaticais dos subsistemas da flexão de número no nome e da flexão de primeira e terceira pessoa do plural no verbo do Português Xinguano (EMMERICH, 1987); e de características gramaticais da expressão do gênero no português Huni Kuin (CHRISTINO, 2015). Defendemos que compreender o conhecimento linguístico responsável por produzir as características do português de contato com as línguas indígenas brasileiras possa esclarecer fenômenos envolvidos no processo de bilinguismo/multilinguismo dos povos indígenas, e ajudar a lidar com os desafios da educação escolar indígena. Para explicar o comportamento linguístico e mostrar como ele se apoia nas propriedades da Faculdade da Linguagem recorremos ao conceito de interlíngua (SELINKER, 1972). Partindo desse conceito, o início do processo de conhecimento de L2 seria marcado pela presença da gramática nativa e pelos dados da segunda língua. Todo esse processo seria restringido pelas propriedades gerais e abstratas da linguagem humana (WHITE, 2003). Assim, demonstramos como gramáticas nativas estruturam o português de contato. Pretendemos com reconhecimento dessa estruturação um resgate da participação da língua e cultura dos povos nativos na sociedade brasileira, e uma promoção do seu processo de descolonização.

Highlights

  • Our aim in this article is to tell a part of Brazilian Portuguese history through the contact with national indigenous languages

  • In order to achieve this objective, we have sought works which deal with the presence of grammatical and sound characteristics of the native languages in the Portuguese spoken by the indigenous communities members

  • We argue here that the understanding of the linguistic knowledge responsible for the characteristics observed in the Portuguese developed from the contact with Brazilian indigenous languages can help clarify the phenomena involved in the bilingualism / multilingualism process, and can help to deal with the challenges of indigenous school education

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Summary

Introdução

A história do português no território nacional brasileiro precisa ser contada a partir do contato entre as línguas dos povos nativos e daqueles vindos de fora. A situação linguística do português no início da colonização e o seu contato com as línguas indígenas e as línguas africanas levaram alguns pesquisadores a procurar identificar na língua falada no Brasil características de um crioulo de base lexical portuguesa e gramática africana. Diferentes autores buscaram explicar as características do português popular do Brasil a partir de um crioulo de base lexical portuguesa e gramática africana (Coelho 1967; Guy 1989, 1981a, 1981b; Jeroslow 1975). Mas ainda são escassos os trabalhos que discutem o papel do contato do português com as línguas indígenas brasileiras (Bonifácio 2019; Peixoto 2017a; Christino 2015; Emmerich 1987, 1984; Silva e Silva 1985 etc.). A ideia geral é a de que as línguas indígenas brasileiras contribuíram com

38 Revista Brasileira de Linguística Antropológica
Mecanismos do desenvolvimento de L2
O português de contato com as línguas indígenas
O português indígena ticuna
O português indígena camaiurá
O português indígena xinguano
O português indígena huni kuin
Considerações finais
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