Abstract

Nietzsche traz a comunicação como condição humana; por outro lado, Deleuze e Guattari afirmam que a comunicação não é possível aos humanos. Este artigo se apropria desse impasse, buscando mostrar que as duas possibilidades têm sentido, sem que isso implique um contrassenso. Para tanto, realiza uma discussão conceitual envolvendo o pensamento dos mencionados autores e ainda o modo como um texto brasileiro de teorias da comunicação lida com essa problemática. Por fim, mostra que a argumentação nietzschiana acerca da natureza comunicativa dos humanos é complementar àquela que Deleuze e Guattari usam para mostrar a impossibilidade de humanos comunicarem-se e que, se as argumentações parecem ser contraditórias, é apenas em função de distintas construções conceituais para o termo "comunicação".

Highlights

  • Communication: a human condition or impossibility? – Nietzsche considers communication a human condition; Deleuze and Guattari, on the other hand, argue that communication among humans is not possible

  • Seria necessário pressupor que o caos existe desde sempre, mas que a comunicação não, que esta é recente, uma novidade para o mundo, e que, por isso, não poderia reduzir a vida ao seu sistema de sentidos e de entendimentos

  • O primeiro, sozinho, torna-se insuficiente a partir do momento em que, do século XVIII em diante, a comunicação “deixa de ser [apenas] uma prática social imediata e constitutiva da consciência humana ou das relações interpessoais, para se tornar um exercício coletivo enquanto estratégia de poder” (2001a, p. 19)

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Summary

A comunicação como condição humana

A consciência é supérflua e desnecessária para o mundo. É isso que justifica a pergunta: “para que então consciência, quando no essencial é supérflua?” (NIETZSCHE, 2012, p. 221, grifo do autor). É por isso que, considerando o hábito histórico de dar nome às coisas a partir dos seus diferenciais mais salientes (o diferencial saliente do porco-espinho é o espinho), pode-se chamar o humano de “pequena-razão”, já que, na perspectiva nietzschiana, todos os corpos têm a grande razão, porém, somente o humano tem a pequena, que é, justamente, a consciência. É que, apesar de mostrar a condicionalidade da comunicação, o autor procura, ao mesmo tempo, mostrar que a capacidade comunicativa, aliada à consciência, não tem nada de especial, a não ser para o seu próprio detentor (assim como o espinho é especial para o porco-espinho, e não para o mundo). O recém-nascido precisa do outro não somente para cuidados fisiológicos, como também para o seu desenvolvimento mental, o qual diz respeito, antes de tudo, ao desenvolvimento filogenético que potencializa esse organismo a se comunicar com o outro e, através dessa relação, produzir sentido. Tratando-se do pequena-razão, está-se falando de um ser que se comunica; aliás, na perspectiva desta seção, somente ele, dentre todos os seres, comunica-se

A comunicação como impossibilidade humana
A problemática num texto de teorias da comunicação
Conclusão – Condição e impossibilidade a um só tempo
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