Abstract

A concepção de que a guerra seria uma luta da civilização contra a barbárie, na qual o engajamento pessoal e a mobilização dos cidadãos se embeberiam de um sentimento de ódio pelo inimigo nacional, foi o discurso que estabeleceu o eixo principal dos sistemas de representação social, na França da Grande Guerra. Enquanto representação coletiva, a radical desumanização do inimigo (a Alemanha), que com sua suposta barbárie ameaçaria a civilização (a França), foi a fórmula que fundamentou grande parte da mobilização física e intelectual dos franceses. Traduzido para a experiência pessoal destes homens, o ódio ao inimigo aparece como um sentimento real, internalizado pelos que vivenciaram a brutalidade da guerra; e um sentimento histórica e identitariamente construído, que toma forma de acordo com a experiência de cada um. Tendo em conta o interesse da História Cultural em restituir aos sentimentos seu justo lugar na conformação do passado, este artigo se propõe a seguir a trajetória de três homens de letras - André Gide, Jean Schlumberger, e Jacques Rivière -, investigando como suas experiências de vida levaram-nos a expressar o ódio, produzindo representações diversas do inimigo, durante dois momentos de grande comoção na França: a passagem da paz à Guerra, em agosto de 1914; e, com a vitória, o retorno da guerra à paz, no entre-guerras que se seguiu.

Highlights

  • Em um discurso pronunciado em Paris, diante da Academia de Ciências Morais e Políticas, em 8 de agosto de 1914, o filósofo Henri Bérgson deu sua versão da guerra que se desencadeava: “a luta engajada contra a Alemanha é a própria luta da civilização contra a barbárie”.2 Esta fórmula estabeleceu o eixo principal do discurso dominante sobre a Grande Guerra, na França

  • A história dos intelectuais, ao contrário da história intelectual, se interessa pela vida dos “profissionais da manipulação dos bens simbólicos”,5 em todas as dimensões, partindo do princípio de que “as idéias não passeiam nuas pela rua”

  • Para se construir a paz, sustenta Rivière, a memória se torna um obstáculo: “Nós somos iguais a estes doentes a quem falta de sono os torna incapazes; nós precisamos, antes de tudo, de um pouco de esquecimento”

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Summary

Introduction

Em um discurso pronunciado em Paris, diante da Academia de Ciências Morais e Políticas, em 8 de agosto de 1914, o filósofo Henri Bérgson deu sua versão da guerra que se desencadeava: “a luta engajada contra a Alemanha é a própria luta da civilização contra a barbárie”.2 Esta fórmula estabeleceu o eixo principal do discurso dominante sobre a Grande Guerra, na França.

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