Abstract

A polêmica gerada pela notícia de que o MEC estava distribuindo um livro de português que “ensinava a falar errado”, veiculada no mês de maio deste ano de 2011, na grande imprensa, colocou em debate na sociedade brasileira a questão do ensino de língua portuguesa. Nesse debate, aflorou a contradição entre os avanços alcançados em termos de políticas publicas de ensino de língua materna e o atraso que marca a visão hegemônica de língua na sociedade. Também ficou bastante clara no episódio a posição dos segmentos conservadores de que o estudo científico da língua não deveria fazer parte dos conteúdos da disciplina língua portuguesa, que deveria se restringir, assim, ao ensino da chamada “norma culta”. Dentro dessa visão, a escola deveria corrigir a fala do aluno, sobretudo do aluno proveniente das classes populares, para que esse aluno tivesse a possibilidade de ascender socialmente. Nesse contexto, o reconhecimento da diversidade da língua e da legitimidade de todas as suas variedades foi considerado prejudicial ao cumprimento do objetivo maior da escola. Este texto aborda algumas questões que estão subjacentes à polêmica, destacando: (i) o desconhecimento generalizado na sociedade em relação à realidade da língua; (ii) o problema da norma de referência linguística no Brasil, ou, simplesmente, norma padrão brasileira; (iii) a diferenças nos padrões de comportamento linguístico e na avaliação subjetiva da variação linguística entre os diversos segmentos sociais como reflexo das desigualdades históricas que caracterizam a sociedade brasileira; e (iii) os desafios do ensino de língua portuguesa numa sociedade democrática e pluralista.

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