Abstract

No período pós-independência, o objetivo da Frelimo era “livrar a sociedade moçambicana de mazelas associadas ao mundo colonial, burguês e capitalista, rumo à construção do Homem Novo, que passava necessariamente por um processo de “reeducação”, no interior do qual os indivíduos seriam introduzidos numa nova ordem” (Thomaz, 2008, p. 179). Esta nova ordem implicava “trabalho disciplinado, despojamento material, superação de antigas lealdades (étnicas, religiosas, de classe, de raça, regionais) e comportamento moral inatacável” sinónimo do “ideal de Homem Novo” (Thomaz, 2008, p. 179). Os artigos publicados em jornais moçambicanos da época contrastam com os textos dos media internacionais. Ungulani Ba Ka Khosa apresenta, em Entre as memórias silenciadas (2013), um retrato de Moçambique nos primeiros anos do período pós-independência com a ficção a alertar para a necessidade de desafiar e recuperar as memórias silenciadas dos campos de reeducação instituídos pelos dirigentes da Frelimo para construir/educar um “Homem novo”. Ba Ka Khosa (2013) procura desmistificar e exorcizar a história do passado recente com um texto que (re)visita a realidade moçambicana no período pós-independência, que para os reeducandos foi sinónimo de violência, sofrimento e exclusão da história e da memória. Como um dos autores mais provocadores da contemporaneidade moçambicana, Ba Ka Khosa “dilui o passado no presente, a ficção na realidade, fazendo da literatura um vivaz espaço para o debate político” (Gallo, 2013, p. 293). Esta comunicação propõe-se analisar a obra de Ungulani Ba Ka Khosa em paralelo com os textos publicados nos meios de comunicação nacionais e internacionais.

Highlights

  • Centros de reeducação em Moçambique (1975-1985): memórias, silêncios e discursos jornalísticos

  • This paper has the purpose of analysing the work of Ungulani Ba Ka Khosa and, simultaneously, the pieces published in national and international mass media

  • É diretora da licenciatura e do mestrado em Ciências da Comunicação e vice-diretora do curso de Comunicação e Multimédia, desde 2017

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Summary

Entre as memórias silenciadas

Ungulani Ba Ka Khosa apresenta, em Entre as memórias silenciadas (2013), um retrato de Moçambique nos primeiros anos do período pós-independência com a ficção a desafiar e a recuperar as memórias silenciadas dos campos de reeducação instituídos pelos dirigentes da Frelimo para construir/educar um “Homem novo”. A afirmação de que o que se passa nos campos/centros de reeducação é assunto que não ficará registado na memória coletiva está explícito na obra: amanhã ninguém se lembrará deste macabro gesto de nos atirarem para estes ermos espaços com a finalidade de criarem um homem novo. Entre as memórias silenciadas (2013) retrata a desterritorialização forçada promovida pelo Estado da Frelimo através de deportações massivas para os campos de reeducação ou para os campos de trabalho longe da capital, em províncias longínquas como o Niassa, para limpar a sociedade, erguendo o homem novo livre do colonialismo e preparado para construir a nação. A integração em atividades produtivas a serem desenvolvidas coletivamente pela população contribuía para combater o subdesenvolvimento das províncias mais rurais e para recuperar indivíduos indisciplinados cujo comportamento teria sido prejudicial para a sociedade

Corpus jornalístico
Frequência relativa
Referência à entrega de dinheiro e de alfaias para reconstrução
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