Abstract
RESUMO No Brasil, desde a primeira década do novo século, existe a preocupação em delinear o significado do cuidado como princípio do currículo e da política da educação infantil. A partir de referenciais da filosofia e de análises históricas e sociológicas, delineia-se o cuidado como relações e ações que têm o outro em vista e se tornam constitutivas do ser, implicando na constituição de cada um e de cada uma. Entre os anos 2021 e 2022, realizamos uma pesquisa de pós-doutorado que buscou aprofundar os significados do cuidado para fazer reflexões sobre o currículo da educação infantil. A ideia do projeto foi considerar o cuidado a partir do prisma dos povos tradicionais e dos movimentos sociais. Para isso, realizamos uma etnografia com uma comunidade de pesca do litoral norte do estado de Alagoas, Brasil. O estudo rebate noções de que os povos tradicionais oferecem um cuidado precário, como considerado pelo colonizador, sendo esse um cuidado mais comunitário, implicando maior liberdade das crianças para circularem pelos espaços da comunidade, e maior autonomia em relação a demandas da vida e para agir conforme curiosidades. Estão na base do cuidado relações de amistosidade sutil que se expressam no silêncio, na economia de palavras e na atenção aos gestos. Consideramos que os currículos na educação infantil precisam incorporar as diferentes formas e significados de cuidar para acolher bebês e crianças, e não subalternizar identidades sociais.
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