Abstract
A emergência das redes digitais consolida um novo tipo de ativismo religioso no contexto brasileiro que potencializa a chamada onda conservadora. Trata-se de novas dinâmicas que colaboram para a saturação da fronteira entre as esferas do religioso e da política, característica-chave do ideal clássico de secularização. Este artigo aborda o papel do ativismo evangélico conservador digital na eleição presidencial de 2018, marcada pelo engajamento aberto de igrejas e líderes religiosos na disputa eleitoral, mobilizando suas redes de fiéis, sobretudo em torno de uma pauta moral e de costumes. A pesquisa se baseia na conjunção do uso de dados disponíveis extraídos de fontes secundárias e o estudo exploratório nas redes com base em uma amostra não-probabilística obtida por meio de procedimentos de amostragem intencional. Observou-se que o engajamento evangélico eleitoral nas redes é o resultado da consolidação de movimentos conservadores de contra-secularização. Em um contexto de pluralismo, as redes digitais permitem, paradoxalmente, além de uma tomada de palavra e visibilidade de uma série de minorais, uma reação a esses avanços progressistas, com impacto direto na vitória de Jair Bolsonaro.
Highlights
The rise of digital networks consolidates a new type of religious activism that increases the so-called conservative wave in the Brazilian context
Tanto instituições como religiosos se engajaram abertamente na disputa eleitoral, mobilizando suas redes de fiéis em torno, sobretudo, de pautas morais
Esses religiosos e suas instituições, adeptos à cultura das redes desde os seus primórdios (AGUIAR, 2014), encontram no espaço tecnológico terreno fértil para disseminação desse combate, ungindo como símbolo Jair Bolsonaro
Summary
Introduzir o problema das mídias no debate sociológico acerca da secularização e seus limites é estabelecer um ponto de vista fértil nessa discussão. Como argumentado por Lawther (2009) e Cheong (2012), apesar da internet ser uma mídia com alto grau de relativização de visões religiosas hegemônicas, as religiões tradicionais estão se deslocando maciçamente para esse ambiente tecnológico. O ativismo religioso digital configura-se como uma faceta distinta da midiatização do religioso, afinal para esse ativismo essas novas mídias não são só concebidas como uma ferramenta de proselitismo ou disseminação de mensagem religiosa, mas como um ambiente a ser ocupado a fim de participar da esfera política, ou seja, trata-se de um espaço no qual as hierarquias tradicionais necessitam estar para disputar valor com essa multiplicação de perspectivas. Por meio das tecnologias digitais, diferentes atores sociais se inserem na esfera política em nome da religião e mesmo as religiões expandem e renovam suas experiências de vida comunitária e suas redes sociais, forjando novos símbolos e significados cuja rápida disseminação no espaço público depende do desenvolvimento de formas inovadoras de produção de conteúdo
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