Abstract

No desdobramento de uma conversa chama particular atenção a recorrente remissão do falante ao ato da formulação linguística em si, ora comentando e avaliando o próprio dizer ou negociando a palavra certa com o interlocutor, ora explicitando o trabalho de busca da formulação adequada ou qualificando o sentido das escolhas feitas. Nesse processo, o falante, de certa forma, suspende o curso do conteúdo da conversa e se volta a algum aspecto relativo ao modo de dizer esse conteúdo. Em outras palavras, instala-se no desdobramento da enunciação um dizer sobre o dizer, uma enunciação sobre a enunciação, em suma, uma metaenunciação. Entre as diferentes manifestações metaenunciativas distingue-se uma por sua natureza destacadamente interativa. Nela o enunciador, explícita ou implicitamente, encena um diálogo com o seu interlocutor sobre a propriedade ou conveniência do que foi ou vai ser dito no curso da interação. Nesse sentido, o enunciador pode se desculpar ou pedir permissão para usar determinadas palavras ou expressões, tratar de determinados assuntos, fazer alusão a outros, ou ainda justificar certos procedimentos discursivos. Pode ele também chamar atenção do interlocutor sobre o que e como vai dizer, destacando, assim, a seu ponto de vista em relação ao de seu parceiro de interação. A análise das atividades metaenunciativas desse tipo, em razão de seu caráter explicitamente interacional, revela que elas se caracterizam, predominantemente, por uma formulação marcada por traços de atenuação, configurando-se, por isso, em atos de cortesia. O objetivo deste artigo é, justamente, o de identificar e descrever recursos linguísticos de atenuação inerentes a essas intervenções metaenunciativas e, dessa forma, dar evidência à relação de cortesia que elas estabelecem entre os participantes da interação.

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