Abstract

Neste artigo, proponho uma reflexão sobre as relações de gênero e as formas de organização da experiência imigratória contemporânea no bojo da experiência diaspórica dos palestinos. Segundo um provérbio árabe, coletado em trabalho de campo, "as mulheres voam com seus maridos". A explicação se refere a um funcionamento peculiar da vida da família árabe que recebe as noras na unidade doméstica do marido, e, por conseguinte, essa unidade é também a do pai do marido. Foi através desse provérbio que tive acesso a um comentário nativo sobre o "ir e vir" de esposas da Palestina ou de outras cidades para residir na cidade do Chuí (RS) e de lá para outras localidades. No mundo pós-colonial, as mulheres se converteram em potentes símbolos de identidade de sociedades e nações. As mulheres islâmicas e, em especial, as palestinas se encontram dentro desse debate ideológico sobre a integridade e autenticidade cultural. Essa fala proverbial nos dá acesso a diferentes pontos de vista sobre os dispositivos culturais que presidem esses fluxos e nos exige uma reflexão sobre as relações de gênero e o modo como analisamos o protagonismo das mulheres muçulmanas.

Highlights

  • This article proposes a reflection about gender relations and the forms of organization of contemporary Palestinian immigrantsexperience

  • As lições sobre família e parentesco encontradas em inúmeros trabalhos propiciam um entendimento inicial sobre a complexidade do debate, entre exigências identificáveis como “princípios genealógicos”, “lealdades geracionais e de gênero” – que não são exclusivas do dito “mundo árabe”, e nos permitem uma compreensão melhor sobre a participação, as lealdades de uma rede de parentes ampliada que interfere na tomada de decisões dos sujeitos

  • No caso da diáspora palestina, a imigração tem sido eternizada em suas redes, como um destino possível, tanto por questões econômicas e políticas quanto pelo esforço das famílias, e em especial das mulheres, em religar e ressemantizar a experiência da viagem

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Summary

Denise Fagundes Jardim

Coletado em trabalho de campo no extremo Sul do Brasil, “as mulheres voam com seus maridos”. As lições sobre família e parentesco encontradas em inúmeros trabalhos propiciam um entendimento inicial sobre a complexidade do debate, entre exigências identificáveis como “princípios genealógicos”, “lealdades geracionais e de gênero” – que não são exclusivas do dito “mundo árabe”, e nos permitem uma compreensão melhor sobre a participação, as lealdades de uma rede de parentes ampliada que interfere na tomada de decisões dos sujeitos. O certo seria dizer que, neste artigo, gênero e parentesco nos fornecem não um caminho para desvendar o “mundo muçulmano”, mas uma possibilidade de aproximação, nesse caso, da experiência identitária e afetiva com que os imigrantes e seus filhos recorrem ao tema da “tradição” e da continuidade de seu grupo

Um cenário entre outros da diáspora
Os constrangimentos à circulação internacional dos palestinos
Uma história exemplar
As trocas matrimoniais e seus diferentes pontos de vista
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