Abstract

É praticamente impossível, ao estudar o crescimento económico português entre 1950 e 1973, não mencionar as mudanças sociais. Contudo, a literatura especializada não tem conferido a devida importância aos aspetos relacionados com o quotidiano, e, especificamente com a alimentação no período do Estado Novo. É nosso propósito, com este ensaio, identificar e caracterizar os novos caminhos da vida quotidiana em Portugal no segundo pós-guerra, tentando responder a duas questões principais: como é que o desempenho económico português afetou a indústria alimentar e como a população percecionou as mudanças, construiu alternativas ou manteve certas práticas nas várias regiões do país.

Highlights

  • O período que se seguiu ao fim da II Guerra Mundial marcou, a nível global e a nível nacional, uma viragem no que concerne aos postulados económicos seguidos até então

  • A reação do público foi positiva, verificando-se, em outras cidades, o surgimento de cadeias de supermercados como os Invictos, no Porto, os Colmeia, em Coimbra ou os Grupal, em Aveiro, acentuando o declínio do comércio tradicional, mas também das cooperativas de consumo que face “da prática de um lucro do máximo [dos supermercados], as cooperativas se mostram incapazes de vencer”[12]

  • Para uma história da alimentação de Lisboa e seu termo

Read more

Summary

Introdução

O período que se seguiu ao fim da II Guerra Mundial marcou, a nível global e a nível nacional, uma viragem no que concerne aos postulados económicos seguidos até então. A análise do consumo alimentar neste período terá de obedecer ao que designamos como um jogo de escalas, sintoma dos paradoxos que atravessam a sociedade portuguesa no pós-guerra. Balizando este estudo[1] entre as políticas de combate à “crise das subsistências”, no rescaldo da II Guerra Mundial, e o início da crise económica que pôs termo aos trinta gloriosos anos do capitalismo (1950-1973), pretendemos averiguar como é que as mudanças que se operaram na alimentação e nos hábitos quotidianos dos portugueses, num período de crescimento económico, se inscrevem num movimento mais lato, de diferenciação regional e de construção dicotómica entre litoral e interior. Para um melhor conhecimento sobre o consumo alimentar no Portugal contemporâneo, tema a que a historiografia tem votado menor atenção, embora se contem algumas exceções (Pereira 1975: 610-631; Rocha 2009: 249-262; Reis 2009: 263-279; Freire 2011: 101-126; Cascão 2011: 56-91)

Uma economia em transformação e as dinâmicas de uma sociedade dual
Os lugares de consumo alimentar
Perspetivas e variações regionais da alimentação
16 Para uma visão detalhada dessas políticas veja-se Rosas 2001
Os padrões de consumo alimentar
Conclusão
Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call