Abstract

A concepção da falta moral em Pedro Abelardo (1079-1142) contém um elemento fundamental de natureza estóica. Trata-se da noção de “consentimento” (consensus). Após a apresentação do essencial dessa teoria abelardiana, remontamos à fonte dessa ideia no estoicismo antigo e da época imperial. Segundo os seus principais representantes, o “consentimento” ou o “assentimento” (sugkata/qesij) tem uma função determinante não somente na ética, mas também no processo de conhecimento. Frisamos de passagem a semelhança entre componentes importantes da gnosiologia estóica e a teoria exposta por Aristóteles nos Segundos analíticos acerca da origem do conhecimento. Agostinho constitui sem dúvida um dos principais intermediários, pelos quais essa noção de consentimento chega até Abelardo no século 12. Ainda que seja influenciado pelo Bispo de Hipona sobre as questões morais em geral, Abelardo parece se distanciar dele, ao considerar que o consentimento releva mais da razão que da vontade.

Highlights

  • “consent” or “assent” has a determining function in ethics, and in the process of knowledge as well

  • Peter Abelard’s (1079-1142) conception of moral sin contains a fundamental element from Stoicism, which is the notion of “consent”

  • We emphasize in passing the resemblance between some important components of Stoic epistemology and the theory expounded by Aristotle in the Posterior Analytics on the origin of knowledge

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Summary

Abelardo e a falta moral

No seu tratado intitulado Ethica siue Scito teipsum, Abelardo insiste sobre o fato de que o pecado ou a falta moral não consiste na ação má, nem na concupiscência ou na vontade e no desejo perniciosos, nem sequer no vício, mas sim no ato racional de consentimento[3]. Abelardo insiste, no mesmo lugar, sobre o fato de que esse tipo de consentimento consiste em uma conduta má grave com respeito a Deus, que, em si, nos torna culpáveis. E o mesmo acontece com as ações internas, como a vontade ou o desejo maus, que precedem o ato racional do consentimento; elas não amplificam, de maneira alguma, a nossa culpabilidade, mas desvelam, na verdade, apenas a fraqueza da natureza humana. A falta moral produz-se somente no momento em que se consente às nossas deficiências naturais ligadas à vontade ou ao vício adquirido voluntariamente

Assentimento nos estóicos
A origem do conhecimento segundo os estóicos e os Segundos analíticos
Continuação e fim da análise da noção assentimento segundo os estóicos
Do assentimento ao consentimento
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