Abstract

O contexto de desenvolvimento das pesquisas de corpo na Administração requer uma investigação que permita uma compreensão corporificada (não representacional) desse campo do conhecimento. Para isso, refletimos sobre estudos de corpo e corporalidades nos campos da Administração e da Dança (ballet), assim como informações de uma etnografia realizada em uma importante companhia de dança brasileira, a Dançar Companhia de Dança (nome fictício). O objetivo deste artigo é investigar como os bailarinos da Dançar corporificam (embody) seu trabalho bailarino. Apontamos para três importantes processos de corporificação do trabalho bailarino, quer sejam: a corporificação das dores e lesões, a corporificação de um tipo de corpo e de movimentação corporal e, por fim, a dificuldade de corporificar o dançar com a alma. Compreendemos que tais corporalidades se constituem a partir de um contexto mais amplo do que o da organização Dançar, pois incluem questões de hierarquia e disciplina, assim como composições sócio-histórico-culturais do campo da dança. Sob a perspectiva prática, analisamos que a exigência - organizacional e do campo da dança - por tais corporalidades acarreta tanto o uso extremo do corpo bailarino, quanto a vivência limitada da dança por esses trabalhadores artistas.

Highlights

  • Temos como objetivo, neste artigo, investigar como bailarinos de uma grande companhia de dança brasileira corporificam seu trabalho bailarino

  • Buscamos focar na experiência corporal diária do bailarino no ambiente de uma importante companhia brasileira de dança, no intuito de se obter uma compreensão corporificada do trabalho bailarino

  • Essa padronização se acentua quando o estilo de dança em questão é o ballet clássico, mostrando-se aparente em expectativas corporais como juventude, magreza e força, assim como a idealização de determinados movimentos corporais, sendo alguns: o pé esticado com colo de pé saliente, as pernas com linhas em x, projeção do olhar para cima, peito empinado refletindo uma postura ereta, ser alongado, articular o corpo com suavidade nos movimentos, ter o andeors, desenvolver musicalidade na precisão do movimento no espaço e, inclusive, puxar o peso para cima remetendo à leveza, e algumas vezes para baixo no contemporâneo, ao estar mais para o chão

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Summary

Corpo e Administração

Como a Psicologia, a Educação, a Administração e até mesmo a Medicina, vêm buscando uma compreensão não biológica do corpo humano, no intuito de preencher uma lacuna na construção de seu conhecimento. Os estudos brasileiros de corpo precisam avançar, abarcando também a perspectiva da corporalidade (embodiment), a qual vem sendo cada vez mais explorada nos estudos das Ciências Sociais, da Antropologia, assim como no campo dos estudos em Administração fora do Brasil (Dale, 2005; Flores-Pereira, Davel, & Cavedon, 2008; Hindmarsh & Pilnick, 2007; Sthyre, 2004; Yakhlef, 2010). Com isso, distanciar-nos de uma lógica dicotômica de construção do conhecimento, que preconiza uma separação entre mente e corpo, sujeito e objeto, representação e prática, na medida em que compreendemos a pessoa de modo indissociável de seu corpo – não mais um objeto – e do mundo sócio-histórico-cultural no qual habita. O ballet é a forma de dança teatral mais reconhecida nas sociedades ocidentais, propagado atualmente como uma marca global (com diferenças de estilo) pelas escolas e companhias de dança (Thomas, 2003), disseminado como um produto de uma cultura de massa e de consumo (Horkheimer, 1989), pela indústria cultural (Adorno & Benjamin, 1975)

As companhias de dança e os bailarinos
Uma Etnografia Corporificada
As Corporalidades do Trabalho Bailarino na Dançar Companhia de Dança
As corporalidades do trabalho bailarino na Dançar
Corporificando a dor
Corporificando um tipo de corpo e de movimentação corporal
Corporificando o dançar com a alma?
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