Abstract

O artigo trata da experiência de um grupo de mulheres extrativistas na comercialização de frutas silvestres, no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no estado de Sergipe. O quadro de análise insere-se no debate sobre pobreza e políticas públicas para grupos específicos no espaço rural. O foco aqui são as autodenominadas "catadoras de mangaba", que assumiram uma identidade coletiva baseada no uso comum de recursos com baixo impacto ambiental e pertencem ao Movimento das Catadoras de Mangaba (MCM). Embora tenham sido recentemente reconhecidas como sujeitos de direitos específicos, vivenciam a diminuição dos recursos, sobre os quais praticam o extrativismo, e as dificuldades de comercialização resultantes da insegurança relativa ao acesso aos frutos e à sazonalidade. A pesquisa foi realizada entre 2008 e 2011 por meio de observação direta e entrevistas abertas e semiestruturadas. Os principais resultados mostram que o PAA tem influenciado no aumento da renda, do consumo e da autoestima. Houve reordenamento da rotina diária das catadoras de mangaba que, para participar do programa, relegaram atividades tradicionais a segundo plano. As regras do programa foram ressignificadas e adaptadas localmente. Constata-se o aumento da solidariedade entre as catadoras participantes, paralelamente à intensificação da concorrência pelos frutos.

Highlights

  • Para muitos estudiosos do tema, a comercialização de produtos pelos agricultores familiares7 é considerada um grande problema. Chayanov (1974 [19238]) sugeriu, há 90 anos, a verticalização dos processos de produção para facilitar a integração dos camponeses ao mercado, melhorar a sua posição na competição com os agricultores patronais e garantir a sua reprodução

  • A maior parte dessas contas resulta da aquisição de alimentos em comércios locais (83%), pela aquisição de alimentos – particularmente carne, que substitui os mariscos na alimentação, uma vez que agora as catadoras de mangaba não têm tempo para coletá-los (66%), mas também se devem à aquisição de móveis e à reforma da casa (55%)

  • Constata-se que houve um reordenamento das atividades, a entrega dos frutos no mesmo espaço e tempo, uma reorganização do trabalho no campo para a coleta e na casa para a pós-coleta, com o envolvimento do maior número de membros da família e a busca de áreas mais distantes e com maior possibilidade de encontrar frutos – pelo menos por parte de algumas catadoras

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Summary

Introdução

Para muitos estudiosos do tema, a comercialização de produtos pelos agricultores familiares é considerada um grande problema. Chayanov (1974 [19238]) sugeriu, há 90 anos, a verticalização dos processos de produção para facilitar a integração dos camponeses ao mercado, melhorar a sua posição na competição com os agricultores patronais e garantir a sua reprodução. No caso das catadoras de mangaba, reflete-se sobre um grupo que vive da comercialização de uma grande parte de seus produtos, destacando a diferença entre a atividade extrativista de coleta e as atividades produtivas da agricultura que envolvem desde o preparo do terreno até a colheita. Mesmo a aprovação de uma lei estadual pela Assembleia Legislativa do estado de Sergipe, que reconhece as catadoras de mangaba como um grupo culturalmente diferenciado e estabelece o autorreconhecimento como um critério do direito, não implica, por si mesma, neste momento, uma alteração substancial da situação econômica das mulheres. Levanta-se a questão de saber se tais programas contribuem também para o reconhecimento mútuo entre as mulheres e pelos outros ou se trazem o efeito oposto de estigmatizar quem os usa, como é frequentemente o caso da assistência social.

Considerações sobre o PAA
Reflexões finais
Findings
Referências bibliográficas
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