Abstract

Na pandemia do vírus Covid-19, novos fenômenos patológicos despertaram surpresa, horror e curiosidade. O mesmo aconteceu com uma epidemia anterior, a do vírus Zika, entre 2015 e 2016. Vírus, vetor, gestante, feto – para chegar a essa correspondência, aconteceu um “intensivão científico”. Dezenas de cientistas correram para Recife/PE, o epicentro à época, e transformaram as crianças atingidas nos principais sujeitos de pesquisa. Ainda em 2018, entrevistei 13 cientistas do Zika. Em 2021, li os seus 36 artigos científicos publicados a partir de uma pergunta específica: onde e como aparecem as crianças? Como conteúdo, proponho uma leitura etnográfica destes artigos que, mesmo padronizados, sintéticos e herméticos, revelam informações nas entrelinhas. Como forma, farei um experimento literário, seguindo as seções comumente organizadas nesses artigos. Como empiria, sigo uma ordem microscópica até uma ordem macrossocial, da célula à demografia da epidemia. Contudo, a despeito de toda esta ciência feita a partir das crianças, elas continuam invisíveis. Por essas pistas, de conteúdo, forma e empiria, e amparada por expoentes contemporâneas da Antropologia da Ciência, sugiro uma análise sobre os encontros científicos durante a epidemia do Zika ali no Recife.

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